ARQUEOLOGIA

Nova descoberta fala em “vale perdido de cidades” de 2500 anos na Amazônia

As estruturas cobertas pela floresta no Equador já haviam sido ventiladas décadas atrás por arqueólogos, mas descoberta só foi possível devido a avanço tecnológico

Mapeamento feito pelo sistema Lidar na região da descoberta.Créditos: Stephen Rostain
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O que era sabido sobre civilizações antigas na Amazônia acaba de passar uma verdadeira revolução com uma nova descoberta liderada pelo arqueólogo Stephen Rostain, diretor de investigação do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França. Localizada no Vale do Upano, leste do Equador, a descoberta aponta para um “vale perdido de cidades”, nas palavras do coordenador das pesquisas, conectado de "maneira espetacular" e datado de 2500 anos atrás.

Anunciada na última quinta-feira (11) na revista Science, a descoberta só foi possível graças ao avanço tecnológico dos nossos tempos. Décadas atrás, o próprio Rostain já havia levantado a hipótese de que haveria uma civilização antiga enterrada no local, no entanto não havia meios para se ter essa certeza.

Dessa vez, um mapeamento da área utilizando uma tecnologia de sensor a lazer chamada Lidar tornou possível a revelação. Com ela é possível ver através da vegetação e fazer uma estimativa gráfica que estaria sob o solo.

A descoberta muda tudo o que se sabia sobre civilizações antigas na Amazônia em que evidências anteriores apontavam que naquele período só havia sociedades nômades ou pequenos assentamentos na região. A cidade de Machu Picchu, construída no Peru no século XV, é mais de um milênio mais nova do que a civilização do Vale do Upano.

A nova descoberta fala em cidades construídas entre 500 a.c. e 600 d.c., contemporâneas ao Império Romano, erguidas em encostas arborizadas da cordilheira dos Andes, próximas de um vulcão que fez com que aquelas terras fossem bastante férteis.

Ao todo, seriam 5 grandes cidades e outras 10 menores dispostas em uma área de 300 quilômetros quadrados, conectadas por estradas largas e retas e intercaladas por campos de agricultura retangulares onde produziam milho, mandioca e batata doce. Escavações anteriores chegaram a encontrar vestígios das culturas.

As estradas mais largas tinham até 10 metros de largura e extensão de cerca de 20km. Elas atravessavam as próprias cidades que estavam organizadas de forma semelhante a bairros.

Para Fernando Mejía, arqueólogo da Pontifícia Universidade Católica do Equador e coautor do estudo, “estamos falando de urbanismo”. Logo, de uma sociedade bastante complexa e tecnológica para a época. As estimativas apontam que entre 15 e 30 mil pessoas viviam naquela civilização em seu auge. O número seria próximo à população estimada de Londres no período em que foi ocupada pelos romanos, mais ou menos na mesma época.

Outro ponto de complexidade daquela sociedade seria referente ao sistema de trabalho organizado, sem o qual dificilmente teria conseguido construir tamanha infraestrutura.

Para José Iriarte, arqueólogo da Universidade de Exeter, no Reino Unido, ouvido pela Deutsche Welle, o estudo “rompe com a visão de que a Amazônia seria uma região selvagem intocada com apenas pequenos grupos de pessoas. As descobertas recentes mostram que o passado é realmente muito complexo".