Por Laura Vermont, pela luta coletiva

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O assassinato de Laura Vermont, uma mulher trans de 18 anos, é um mais um caso triste e revoltante. Devido à transfobia, os policiais que deveriam socorrê-la a mataram e tentaram enganar a própria Policia Civil com um versão mentirosa dos fatos, tentando responsabilizar a vítima pelo crime. Jackson de Araújo, pai de Laura, falou em entrevista à Fórum sobre a dor e indignação que toda a família está sentindo. Em suas palavras, Laura "era uma filha muito maravilhosa, brincalhona, apegada à mãe”. O amor do seu pai mostra que Laura era uma exceção: ao contrário da maioria das travestis e pessoas trans, Laura era aceita por sua família e tratada com afeto. No entanto, infelizmente, a aceitação individual de Laura não foi o suficiente para salvá-la da transfobia. Algumas pessoas que fazem parte de grupos discriminados na nossa sociedade, como a população LGBT, podem até desfrutar de uma boa situação em família e nos ambientes que frequentam. São pessoas que possuem bons empregos, recebem afeto de seus familiares e que não escutam que não podem fazer determinadas coisas por serem gays, lésbicas ou trans. Ainda que o machismo, a homofobia e a transfobia existam na nossa cultura, algumas pessoas vivem com relativo conforto, ou porque se encontram em uma condição social privilegiada em outras esferas, ou porque têm a sorte de conviver com pessoas que possuem mentalidades mais abertas. Porém, ao pisarem fora de casa, o território não é mais conhecido e seguro. A misoginia e a intolerância estão em toda parte e basta comparecer a uma festa ou evento para que essas pessoas se vejam com seus direitos podados, enfrentando intimidação e o constante risco de violência física pelos motivos mais estapafúrdios. Ser aceito e compreendido pela família e pelos amigos continua a ser de extrema importância, pois é o apoio das pessoas próximas que nos fortalece e estimula - algo indispensável para uma autoestima saudável. Mas, infelizmente, o machismo, a homofobia e a transfobia não serão resolvidos somente com aceitação da família e amigos. Mesmo com todo o suporte privado, o ódio e a violência continuam a existir e podem atingir até as pessoas mais amadas. Enquanto o preconceito e a intolerância não forem exterminados de toda a sociedade, nenhuma causa está ganha. A luta coletiva precisa continuar. Nesse momento, os movimentos sociais precisam exigir justiça por Laura Vermont, por sua vida ceifada tão precocemente e em um contexto tão repudiável. Enquanto a polícia estiver livre para cometer crimes dessa forma, selecionando quem é mais ou menos humano, tratando pessoas de grupos sociais marginalizados como objetos descartáveis, nenhum outro grupo discriminado está seguro. Se as travestis não estão seguras, nenhuma mulher, nenhuma pessoa LGBT, nenhuma pessoa negra está segura. O problema da violência policial e a transfobia é algo que diz respeito a todos, seja como potenciais vítimas ou como indivíduos que se revoltam diante de qualquer tipo de discriminação. Que a família de Laura encontre conforto nesse momento difícil. Enquanto isso, nos mobilizaremos para que nenhuma outra pessoa trans sofra transfobia e não deixaremos que a polícia continue a matar e mentir em benefício próprio. Lutemos coletivamente. Clique aqui e junte-se ao protesto que acontecerá no próximo dia 27. Foto de capa: Reprodução / Facebook