Cloroquina 2.0: com vacinas em falta, Bolsonaro insiste em focar em spray de Israel para Covid-19

Titular do Planalto voltou a falar do medicamento, ainda em fases preliminares de estudo, disse que conversou com a Anvisa e se calou sobre a escassez de imunizantes que estão levando as cidades a paralisarem vacinação

Bolsonaro em vídeo no Twitter (Foto Reprodução/Twitter)
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mostrou nesta terça-feira (16) que o foco de seu governo neste momento de escassez de vacinas contra a Covid-19 é um spray nasal que está em fase de testes em Israel para aplicação em pacientes com a doença.

Em vídeo publicado em seu Twitter, sobre os temas da semana, ele disse que está sendo acertada “uma comitiva que vai a Israel, do spray para curar a Covid-19, EXOD24”.

No vídeo, Bolsonaro diz que o medicamento existe há mais de dez anos e que seu uso original não era  para a Covid-19. “Nem existia Covid naquela época.” Ele prossegue dizendo que a cura de muitas doenças foi descoberta pela pesquisa “off label, fora da bula”.  E ao que tudo indica o tratamento da Covid, casos graves, tem tudo pra dar certo”, afirmou.

Bolsonaro vem insistindo nesse remédio, que até o momento tem apenas um reporte de teste sobre a aplicação em pacientes com Covid. Ele foi feito com 30 pacientes, de moderados a graves. Deles, 29 tiveram alta hospitalar em três a cinco dias. O reporte do Centro Médico Ichilov dá conta de que um de seus pesquisadores realizou o teste de fase 1 – a primeira das três fases de testes clínicos necessárias para atestar a eficácia e segurança de um medicamento.

“Com 30 pacientes. Até água tem o mesmo resultado”, declarou o infectologista Renato Grinbaum à Fórum. Questionado sobre a intenção do presidente em relação ao medicamento, o especialista foi enfático: “Precisamos trazer vacina, e não uma nova cloroquina”.

O país enfrenta uma escassez nas vacinas contra a Covid-19 que está paralisando a imunização em várias cidades. O governo Bolsonaro não negociou doses do imunizante em volume suficiente para aplicar em toda a sua população. Uma situação chama a atenção: em setembro do ano passado, a Pfizer procurou o governo federal e ofereceu 70 milhões de doses do imunizante que estava desenvolvendo, com início de entrega para dezembro. Mas ficou sem resposta.

Cloroquina 2.0

Ao que tudo indica, o spray será uma espécie de “cloroquina 2.0” de Bolsonaro. Ao longo do ano passado, o presidente defendeu enfaticamente o uso da cloroquina em tratamentos contra a Covid-19, mesmo sem eficácia comprovada para esse fim.

Agora, diante da escassez de vacinas contra o novo coronavírus enfrentada pelo país, fruto da atuação no mínimo errática de seu governo em relação ao assunto, Bolsonaro desvia o foco. E aponta para o spray cujos estudos ainda são bastante incipientes.

Aliás, no vídeo desta terça-feira, gravado na praia, o presidente diz que já conversou com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o assunto.

“Já conversamos com a Anvisa”, afirma ele. “Uma vez entrando a documentação de praxe para tratamento experimental, eu acredito que a Anvisa tem tudo para dar o sinal verde e começarmos também testar no Brasil.”

https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1361734215335878661