Coronel internado com Covid-19 contrariou parecer do Ministério da Saúde para compra rápida de seringas

Jorge Luiz Kormann, que é crítico da CoronaVac e foi internado na UTI com Covid-19, alegou que o preço de uma carga oferecida pela Opas, órgão que atua como escritório regional da OMS, estaria com preço muito superior ao previsto pelo governo

Tenente-coronel Jorge Luiz Kormann (Reprodução)
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O tenente-coronel Jorge Luiz Kormann, secretário executivo adjunto do Ministério da Saúde e indicado por Jair Bolsonaro para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), contrariou um parecer técnico feito pela própria pasta em setembro que recomenda a compra de seringas para vacinação contra a Covid-19 "considerando o risco de não entrega das seringas pelo mercado nacional até dezembro 2020". A informação é de Paula Ferreira, na edição desta quinta-feira (14) do jornal O Globo.

Kormann, que é crítico da CoronaVac e defensor dos tratamentos sem comprovação científica a base de cloroquina, foi internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) na última semana com quadro grave de Covid-19.

É ele quem assina um documento, data de 23 de outubro de 2020 - mais de um mês após o parecer da área técnica do MS - alegando que o preço estaria muito superior ao previsto pelo governo.

Opas
O parecer técnico foi emitido pelo Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis durante negociação com a Organização Panamericana da Saúde (Opas), órgão que atua como escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), que ofereceu as seringas para a vacinação no Brasil.

"Os fornecedores cotados poderão iniciar as entregas de 20 milhões de unidades em dezembro de 2020, 17.256 milhões de unidades em janeiro de 2021 e 2.744 milhões de unidades em fevereiro de 2021 no valor total de US$ 4.679.406,76 (quatro milhões, seiscentos e setenta e nove mil, quatrocentos e seis dólares e setenta e seis centavos), já inclusos preços de produto, frete, seguro e taxa administrativa da Organização. Isto posto, este Departamento se posiciona favorável à continuidade desta aquisição, considerando o risco de não entrega das seringas pelo mercado nacional até dezembro 2020", diz o documento do Ministério da Saúde, obtido pelo jornal O Globo via Lei de Acesso à Informação.

Na resposta, Kormann alega que o preço, com frete aéreo já incluso e diante de uma situação de desabastecimento do produto alegou que o preço estava alto e que "houve informação do PNI [Programa Nacional de Imunização] que a referida vacina chegará ao Brasil somente no primeiro trimestre de 2021".

Levando em consideração a cotação do dólar no dia de hoje, de R$ 5,62 (cinco reais e sessenta e dois centavos), o preço da possível contratação via OPAS apresenta uma diferença de mais de 250% em comparação ao maior preço da pesquisa preliminar do SRP e de cerca de 500% superior ao menor preço da mesma pesquisa, em cada unidade de seringa/agulha", diz o texto, afirmando ainda que "a opção de modal marítimo se mostra, de forma geral, como uma opção mais econômica para o envio de cargas no comércio internacional".

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