Declarações em redes sociais atrapalham, diz médico do Einstein que lidera pesquisa com cloroquina

Luiz Vicente Rizzo, diretor de Pesquisa do Hospital Albert Einstein, que coordena as pesquisas com 70 hospitais, diz que não há dado científico sobre a utilidade da cloroquina para combate ao coronavírus. ""Se não der certo, vai haver uma crise emocional muito grande e isso é desnecessário"

Luiz Vicente Rizzo, diretor de Pesquisa do Hospital Albert Einstein (Reprodução)
Escrito en CORONAVÍRUS el

As declarações de cura e de incentivo do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina nas redes sociais, como vem sendo feitas por Jair Bolsonaro e pelos filhos, atrapalham "imensamente a ciência", segundo o médico Luiz Vicente Rizzo, diretor de Pesquisa do Hospital Albert Einstein, que coordena a coalizão Covid Brasil, com 70 hospitais e 1.360 pacientes, que estuda o uso das duas substâncias como meio de combate ao novo coronavírus.

"Temos um fenômeno incrível, que é essa história das redes sociais, e isso atrapalha imensamente a ciência. Hoje, por exemplo, eu não conseguiria fazer um estudo ideal, em que eu teria um grupo de pacientes que não tomasse cloroquina, pois nenhum paciente ou parente de paciente vai assinar um documento autorizando que não se use cloroquina, pois criou-se uma fama da cloroquina. Fazer ciência na era das redes sociais, em especial na área de Saúde, dificulta o lado científico. A gente fala que não tem dados, mas daí a pessoa vê milhares de mensagens dizendo que alguém tomou cloroquina e melhorou… A verdade só vai sair com a pesquisa científica", afirmou ele em entrevista ao jornal O Globo neste sábado (4).

Segundo Rizzo, do ponto de vista científico "a gente não tem nenhum dado claro que aponte para a utilidade da cloroquina no combate ao coronavírus".

"A gente tem boas indicações. E boas indicações, no momento, é algo bom, pois não existe nenhum tratamento específico. Boa indicação é melhor que nenhuma indicação".

O médico diz combater a "sensação de que a única coisa que existe é a hidroxicloroquina". "Se não der certo, se não for tão bom quanto as pessoas esperam, vai haver uma crise emocional muito grande e isso é desnecessário. Há outras ações que podem ser melhores. A hidroxicloroquina não é a única solução possível", disse.