Jovens que se amontoam em ônibus e periferias se contaminam mais do que os que vão nas baladas

Texto desmistifica retrato da juventude como “irresponsável” por frequentar festas e aponta necessidade de auxílio de renda e proteção para a juventude trabalhadora

Foto: Arquivo Pessoal
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Os sociólogos André Sobrinho, coordenador da Agenda Jovem da Fiocruz, e Helena Wendel Abramo, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre a condição juvenil, publicaram artigo na Folha desta quarta-feira (28), onde apontam as causas de contaminação por coronavírus que têm atingido a juventude brasileira.

De acordo com o texto, “tem se desenhado um retrato da juventude como a responsável pela disseminação do vírus, em função do que se percebe como um comportamento insensato, fruto de uma incapacidade de controlar impulsos por diversão. Assumem destaque as notícias de festas e baladas”.

Os dois lembram que, apesar da importância de serem coibidos esses eventos, os jovens mais pobres vêm sendo submetidos à exposição ao coronavírus, não somente porque se amontoam em festas. “A circulação ocorre em função de sua necessidade de trabalhar, estudar e ‘tocar a vida’. Inclusive, apoiando os mais vulneráveis aos desdobramentos agudos da infecção”.

“Dados da Pnad mostram que 70% dos jovens entre 18 e 24 anos estavam, em 2019, trabalhando ou procurando emprego. A grande maioria trabalha em situações precárias, agravadas na pandemia, como é o caso de empregos domésticos, operadores de telemarketing, entregadores de aplicativos, “empreendedores” em serviços e comércios de rua”, advertem.

O artigo afirma ainda que os jovens, em sua maioria, “residem em moradias insalubres nas periferias urbanas e se deslocam em transportes públicos lotados. Entregadores e profissionais de saúde são talvez a imagem mais eloquente do papel essencial e ao mesmo tempo em alto risco dos jovens trabalhadores na conjuntura da pandemia. Levantamento da Fiocruz estima que, de 2 milhões de trabalhadores da saúde na linha de frente hospitalar, 38,4% estão na faixa etária de até 35 anos”.

Ao final, o texto indica que “as ciências médicas e humanas devem subsidiar as maneiras mais adequadas de veicular mensagens, tanto para a juventude quanto sobre a juventude, deslocando os riscos de uma visão caricatural que ensaia transformá-la em bode expiatório no momento crítico em que vivemos”.

“Os jovens não devem ser foco apenas de mensagens preventivas, mas também de auxílio de renda e proteção nas atividades econômicas em que estão inseridos e pelas quais estão sendo sobrecarregados. Mais que tudo, necessitam de uma política de saúde coordenada pela qual se possa reduzir o contágio e acelerar a vacinação para todos, com vistas à retomada segura de suas vidas, de seus ‘corres’ e dos seus sonhos”, encerra.