Secom usa pesquisa de opinião com metodologia frágil para defender cloroquina

Sem pesquisas científicas que comprovem a eficácia do medicamento, a secretaria de comunicação apelou para um levantamento que diz que "não deve ser usado como base de uma recomendação médica ou tratamento médico"

Bolsonaro exibe remédio a base de cloroquina (Reprodução)
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A Secretaria de Comunicação do governo do presidente Jair Bolsonaro (Secom) fez uma publicação na tarde desta quinta-feira (21) usando uma pesquisa de opinião realizada nos Estados Unidos para defender o uso da cloroquina em pacientes com Covid. O levantamento, no entanto, não comprova a eficácia da medicação e possui uma metodologia questionável.

"Levantamento feito em abril, pela Sermo, empresa global de pesquisa em saúde, mostrou que 37% dos médicos acreditam que a hidroxicloroquina é a 'terapia mais eficaz' contra a Covid-19. De acordo com o estudo, na Espanha, 72% dos médicos disseram que prescreveram o medicamento, na Itália 55% e, na China, 44%", diz tuíte da Secom.

Segundo a Secom, de acordo com o estudo "a hidroxicloroquina é o tratamento mais eficaz contra o coronavírus atualmente disponível". Tal afirmação não está presente na pesquisa da Sermo.

A pesquisa, de fato, traz os números citados, mas não pode ser vista como uma comprovação da eficácia da substância, nem mesmo pode servir para balizar um tratamento com a cloroquina. A própria Sermo afirma isso em nota que se repete em todos as páginas que falam de medicamentos: "os dados fornecidos não devem ser usados como base de uma recomendação médica ou tratamento médico".

A agência de checagem britânica Full Fact ainda aponta que a pesquisa, publicada no início de abril, possui critérios metodológicos frágeis que impedem que ela seja representação da classe médica mundial. "Tudo o que podemos dizer é que esses resultados são os pontos de vista dos 6.227 médicos que fizeram a pesquisa, e não os médicos em geral", diz a Full Fact.

Não são oferecidas maiores informações sobre os médicos que responderam ao questionário - como qual sistema atendem, idade, região - para que pudesse ser feita uma análise mais completa da perspectiva da classe médica. Os gráficos e as porcentagens apenas refletem as respostas em termos quantitativos, desconsiderando variáveis.

Protocolo da cloroquina

Na quarta-feira, o general Eduardo Pazuello, que comanda interinamente o Ministério da Saúde, anunciou o protocolo da hidroxicloroquina para ser usado em pacientes desde o início do tratamento. Segundo o médico e advogado sanitarista Daniel Dourado, o documento “não pode ser adotado como protocolo oficial, porque sem evidências científicas é CONTRA A LEI”.

https://twitter.com/secomvc/status/1263558418159280130