Cantora e ativista Joan Baez se despede dos palcos após 60 anos de carreira

Conhecida ativista política e pacifista, afirmou à TV espanhola: "Eu nunca imaginei o que está acontecendo conosco. As pessoas não se importam se Trump está certo ou não, se ele diz a verdade ou não. Eles estão felizes com a mentira. Trump é um pouco como Hitler, mas menos inteligente”

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A lendária cantora americana Joan Baez se despediu dos palcos no último final de semana com dois shows na Espanha, o primeiro em Barcelona, no sábado (3), e outro em Madri, no domingo (4). Conhecida ativista política e pacifista, afirmou à TV espanhola: "Eu nunca imaginei o que está acontecendo conosco. "As pessoas não se importam se Trump está certo ou não, se ele diz a verdade ou não. Eles estão felizes com a mentira. Trump é um pouco como Hitler, mas menos inteligente”. As razões pela qual optou por deixar os palcos, no entanto, não têm nada a ver com suas desilusões políticas. Joan Baez, que completou 78 anos em janeiro, começa a sentir desgastes em sua voz. Mesmo assim afirmou: "Sou muito grata pela minha vida, é uma vida extraordinária". Não bastasse sua carreira profícua, repleta de discos lindos, basicamente todos ligados à canção folk americana, também gravou um álbum, em 1974, dedicado basicamente às canções de protesto latino-americanas, chamado “Gracias a la vida”, nome da famosa canção da compositora chilena Violeta Parra. Joan se apresentou na famosa marcha sobre Washington liderada pelo reverendo Marthin Luther King contra a segregação racial e pelos direitos dos afro-americanos. Em 1968, gravou “David’s Album”, dedicado a seu então marido David Harris, preso por se negar a ir para a Guerra do Vietnã. Chegou a ir ao Vietnã, em 1973, para prestar solidariedade ao povo vietnamita e manifestar a sua veemente oposição a invasão americana. Recentemente, se apresentou em São Paulo, onde, para surpresa e perplexidade geral, convidou ao palco o cantor e compositor brasileiro Geraldo Vandré, que foi ovacionado por longos minutos. Ao seu lado, ela cantou com sotaque carregado a mítica canção “Caminhando (Pra não dizer que não falei das flores)”. [caption id="attachment_182902" align="alignnone" width="460"] Bob Dylan e Joan Baez. Foto: Arquivo[/caption] Não bastasse a sua vida e obra, de qualidade impecável e uma inflexível coerência de princípios, Joan Baez foi a grande responsável pelo lançamento mundial do cantor e compositor Bob Dylan. Gravou várias de suas canções e ainda teve um romance com o cantor. Ao que tudo indica, no entanto, Joan Baez pode até abandonar os palcos, mas não a sua militância. Na última semana, durante a sua estada na Espanha, visitou o ex-presidente catalão Carme Forcadell, preso por ter promovido o plebiscito de independência de 2017, uma das inúmeras causas defendidas pela cantora. A vida de Joan Baez se confunde com a história da América contemporânea. Uma artista que encheu o planeta de lindas canções, interpretadas de maneira magnífica pela sua inesquecível voz de soprano. A sua despedida dos palcos é mais um capítulo do século XX que se encerra, mas que nos deixa marcas profundas futuro adentro.