Elza Soares volta com a trilha do seu tempo em “Planeta Fome”

Mais moderno e antenado com tudo que acontece no entorno do que todo o entorno, o disco lançado nesta sexta-feira 13 tem capa com gravura da Laerte e participações da banda Baiana System, da cantora Virgínia Rodrigues, Bnegão, Pedro Loureiro e Rafael Mike

Foto: Marcos Hermes/Divulgação
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Elza Soares, que não conta a idade, mas já passou dos 80, dá um trança pé na garotada e lança, nesta sexta-feira 13, seu mais recente álbum, o “Planeta Fome”. Mais moderno e antenado com tudo que acontece no entorno do que todo o entorno, o disco tem capa com gravura da Laerte e participações da banda Baiana System, da cantora Virgínia Rodrigues, Bnegão, Pedro Loureiro e Rafael Mike. [caption id="attachment_187613" align="aligncenter" width="433"] Foto: Divulgação/Laerte[/caption] Em entrevista recente, a cantora afirma: “Vozona não sou. Você não vai me ver de chinelinho, mas sim de calça jeans rasgada, camisetona. O Brasil está doente, mas estou avançando”. E o que poderia ser só frase de efeito chega provado e comprovado na sonoridade, samplers, interpretação, repertório e até mesmo os resgates do disco. Com produção impecável de Rafael Ramos, Elza desloca o eixo de seus dois últimos álbuns dos produtores paulistanos Guilherme Kastrup e Romulo Fróes para o suingue carioca. A produção, aliada ao repertório, traz um resultado um tanto menos experimental e bem mais ensolarado. Nem melhor nem pior do que os anteriores, este “Planeta Fome”, apesar de totalmente comprometido com questões sociais, é bem mais palatável. Elza resgatou canções imprescindíveis e reatualizadas, sobretudo, “Comportamento Geral” e “Pequena Memória de um Tempo sem Memória”, as duas de Gonzaguinha. Outras voltam sampleadas ou citadas. É o caso de “Blá blá blá”, de Pedro Loureiro, que traz trechos de “Chega” (Gabriel O Pensador, DJ Memê e André Gomes, 2016) e “Me dê motivo”, sucesso de Tim Maia composta por Michael Sullivan e Paulo Massadas em 1983. A cação ainda é completada por um rap de Bnegão. Vale nota à parte “Libertação”, de Russo Passapusso, do Baiana System, banda que também participa da gravação, ao lado da cantora Virginia Rodrigues. Com a voz ainda mais rouca, acompanhada de percussões e metais, Elza canta: Eu não vou sucumbir Eu não vou sucumbir Avisa na hora que tremer o chão Amiga é agora segura a minha mão O disco traz ainda uma composição própria de Elza. “Menino” tem pouco segundos e duas quadrinhas: Venha cá menino Não faça isso não Sei que é muito triste não ter casa, não ter pão   Não te leva nada Destruir o teu irmão Você representa O futuro da nação A canção é emendada com “Brasis”, de Gabriel Moura, Jovi Joviniano e Seu Jorge, de 2006, que abre com um poderoso riff de guitarra e Elza muda um detalhe da letra, de: “Tem um Brasil que é lindo e um Brasil que fede” para: “Tem um Brasil que cheira e um Brasil que fede”. Não há uma gota de indulgência. A voz de Elza está mais rouca do que antes, mas chega vigorosa. Nada se perdeu com o tempo. Até mesmo às críticas, cada vez mais raras, mas que vez por outra recebe, ela reage inflexível. Sobre a falta de mulheres na produção do seu emblemático e feminista “A Mulher do Fim do Mundo”, de 2015, ela afirma: “Ah, deixa o pessoal reclamar. Inclusive, sinto falta disso. Botaram Lexotan na água do povo. Está todo mundo calado”.