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Um disco inspirado na obra de Consuelo de Paula já é para ser festejado de saída. Certa vez escrevi aqui sobre ela:
“É uma guerrilheira da nossa cultura popular. Qualquer coisa a mais que se diga ao seu respeito contribui apenas para reduzir o seu universo e significado. Consuelo de Paula é imprescindível. Uma artista grandiosa, de modos e atitudes modestas.
“Mineira, de Pratápolis, Consuelo de Paula se formou em Farmácia, mas abraçou mesmo a música. Desde menina brincava nas congadas, carnavais e folias de sua terra. Fundou um bloco feminino com apenas treze anos, cantou, dançou e compôs até não poder mais. Quando viu que não havia mais jeito, se profissionalizou.”
Posto isto, o disco “Anambé” traz um componente a mais. A estreante em disco Grazi Nervegna chega pronta, com personalidade própria, uma grande capacidade de interpretação e plena noção do universo por onde caminha e deseja prosseguir.
O álbum é lindo do começo ao fim. De acordo com texto de divulgação, “traz em suas faixas a história de vida da própria Grazi, transformada em arte. “A vida, com todas as suas cores e nuances, é o meu grande tear”, diz.
O álbum conta com a direção artística e musical da própria Consuelo de Paula, os multi-instrumentistas João Arruda e Carlinhos Ferreira e a participação mais do que especial do mestre violeiro Levi Ramiro. Como se não bastasse, a arte gráfica é assinada pela artista, que também é cantora e compositora, Kátia Teixeira, e a fotografia de Daniel Kersys.
A voz de Grazi é a primeira a chamar a atenção. Com timbre bonito, tem afinação exata e paixão na medida. Interpreta as canções como se tivesse feito isso por toda a vida, com intimidade e leveza. Caminha com destreza pelos instrumentos e, ao invés de se comportar como diva, se integra ao todo. Ela é um instrumento dentre todos, imprescindíveis para cada canção.
E as canções são lindas. A maioria de sua autoria, outras de ou com Consuelo de Paula e muitas com outros autores, todas convergem para um mesmo imaginário, o mesmo ambiente musical.
Logo de saída, a bela faixa-título diz a que veio o álbum. “Anambé” é uma composição encantada. O título é nome comum de alguns passarinhos e que em tupi-guarani significa “aqueles que caminham em parceria e permanecem unidos” e também uma tribo do Pará: “Meu amor é um vento na mata, é o que eu preciso cantar, aqui e em qualquer lugar”.
O álbum encerra com Rosa dos Ventos, de João Arruda e participação do próprio autor na viola do coxo. A voz de Grazi explode, num primeiro momento só e depois em coro, entre sons de despedida e, ao mesmo tempo, anunciação, como quem sai de um lado pra logo chegar em outro. “Deixa a rosa dos ventos me guiar”.
Entre estas duas canções, um sem fim de lindas surpresas inesquecíveis que nos fazem sempre voltar ao começo e saudar essa grande artista que chega ao mundo do disco.