O Rock é a maconha, a entrada para drogas muito mais pesadas como Miles Davis e Stravinsky

O sabor da groselha sempre deixa uma enorme saudade, a despeito de todos os vinhos raros que a vida passa a oferecer

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Nesta terça-feira, 13 de julho, é comemorado o Dia Mundial do Rock. Quando era adolescente me imaginava velho, com 60 anos, de camiseta preta balançando a cabeça em um show do led Zeppelin.  

Hoje, já sessentão, a última coisa que penso é passar horas de pé ouvindo o que sobrou da voz de Robert Plant. Tudo, enfim, tem seu tempo. Mesmo assim, ainda recorro, vez ou outra, aos velhos álbuns do Zepellin. E, sobretudo, a outras bandas que foram imprescindíveis na minha formação, como os progressivos Pink Floyd, Yes, Jethro Tull, os clássicos Beatles, Rolling Stones e mais uma lista sem fim.

O que ficou de fato nisso tudo foi o tanto que essa canção mais simples e direta, sem rodeios, foi fatal para a fulminante e definitiva paixão pela música que acabou norteando a minha e a vida de muita gente.

O rock and roll foi, como se diz, a nossa maconha, a porta de entrada para drogas muito mais pesadas. Foi a partir dele que chegamos, por exemplo, ao Clube da Esquina, de Milton Nascimento, Lô Borges e cia LTDA. Não fosse pelos sintetizadores, guitarras distorcidas e a linguagem um tanto beatle que havia ali e jamais teríamos fuçado aqueles discos na adolescência.

O mesmo serve para Miles Davis e sua fase fusion. Se dependêssemos daqueles seus primeiros e antológicos álbuns acústicos e jamais teríamos tomado conhecimento da sua obra em tão tenra idade. Foi preciso que ele despencasse, para desespero dos críticos, para o groove funk, com Instrumentos eletrônicos para que chegássemos ao fabuloso quinteto com John Coltrane etc.

A música eletrônica da banda alemã Kraftwerk nos levou ainda mais longe, para os clássicos alemães como Schumann, Friedemann e Händel da mesma maneira que a banda inglesa Yes nos carregou para os lados do barroco e do romantismo, assim como o trio Emerson, Lake and Palmer nos apresentou o russo Modest Petróvitch Mússorgski e seus “Quadros de uma Exposição”.

Já por outro lado, Leonard Cohen e Bob Dylan nos levaram a ler os clássicos da mesma maneira que, um tanto mais tarde, Chico Buarque, Tom Jobim e Paulo César Pinheiro nos carregaram para os braços de Guimarães Rosa. A saga dos sertões, por sua vez, nos levou de volta à viola caipira, aos cantos do Brasil profundo, numa ciranda sem fim, até que a banda Matuto Moderno nos trouxe de volta ao rock.

O rock, como toda indústria, vive de seus mitos: o melhor guitarrista do planeta, a maior banda do universo, o maior cantor de todos os tempos e por aí afora. Visto de outra perspectiva, tudo se revela extremamente ingênuo diante do mundo que vai se abrindo.

Mas, mesmo com todos os exageros, o sabor da groselha deixa uma enorme saudade, a despeito de todos os vinhos raros que a vida passa a oferecer. Por conta disso e por todo o resto, longa vida ao rock. Que ele continue, hoje e sempre, a desencaminhar garotos para dentro dessa imensa aventura que é a música.