Brasil precisa tomar medidas hoje contra o Coronavírus, por Manoel Neto

"O Brasil não tomou medida alguma até a data de escrita deste artigo, pois é prática deste governo dormir ou não reagir diante de catástrofes"

Foto: Agência Brasil/Tyrone Siu
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Por Manoel Neto* Amigos, não sou profissional de saúde mas cientista político que estuda políticas públicas, tomada de decisão e guerra híbrida. Mesmo não sendo o tema da minha área posso tratar do assunto pois sou analista de tendências e posso fazer essa análise justamente naquilo que entendo, que é o avanço do problema e a tomada de decisão do Estado. Coronavírus está sem controle e subindo em progressão geométrica, um caso que precisa ser combatido na raiz. Na raiz, significa interromper o contágio, ou o contato entre pessoas para estancar o problema. A imprensa não explica o que está ocorrendo ao mostrar dados de forma aleatória para que a população não entre em pânico. Mas a população precisa desse pânico e de reação imediata preventiva. Vamos aos dados que colhi da OMS e da Johns Hopkins. O Coronavírus tem por agravante ter semelhança com um gripe leve, o que dificulta sua identificação, e caso não desenvolva seu lado mais agressivo, passa sem ser notado se espalhando. Somente 25% dos contaminados tem sintomas mais graves e sua mortalidade subiu de 0,5% para 2% (na média, pois os dados não aparentam confiáveis ou não batem dependendo da fonte). No começo de janeiro a pandemia iniciou seu ciclo de multiplicação. Lembrem-se que todos os dados até agora são meramente indicativos do passado. Pois o que é atualizado na data atual representa o estágio em que a doença estava há 3 semanas. Explico: o tempo da incubação é de 14 dias, pacientes demoram em média 3 dias para procurar um médico, outros 3 para ter um diagnóstico e mais 1 dia para ser incluído nos sistemas de controle e avanço da doença. Porém, no Brasil, se acrescentam incapacidade técnica, cortes de recursos na saúde, falta de materiais e total incompetência do Ministério da Saúde, até crescentes denúncias de violação da transparências nos atos públicos deste governo. Portanto, qualquer número vindo do Brasil será referente ao tempo passado de 30 dias da data real de contágio (ou pior, não será divulgado). Feita essa primeira consideração do tempo de quando ocorreu o contágio precisamos pensar na velocidade de transmissão. O entendimento da transmissão precisa ser feita com esse cálculo de 3 semanas de delay (atraso). Ou seja, cada vez que tratamos de uma data, entendam que, na verdade, a velocidade do contágio estava naquele ritmo há 21 dias atrás da data que consta do relatório (OMS, Johns Hopkins e outros). No dia 31 de dezembro o vírus estava gerando contágio de 1 pessoa por hora. O que significa, na verdade, que essas pessoas entraram em contato com o vírus em 10 de dezembro. No dia 18 de janeiro o Coronavírus entrou em curva ascendente. Atingindo 2 pessoa por hora. Note que o contágio dessas pessoas ocorreu entre as festas de fim de ano, Natal e Ano Novo. É também pelas datas ocidentais que podemos comparar o contágio, quando parentes de fora da China puderam visitar mais seus familiares, e o momento do contágio internacional no retorno desses chineses para as nações em que trabalham e moram, bem como no caso de turistas de outras regiões do mundo. Seguindo essa tendência a espiral ascendente disparou entre 19 e 22 de janeiro, onde o contágio subiu para 8.3 pessoas por hora e em seguida em menos de 72h subiu para 12.5 contágios por hora. Esses contágios ocorreram predominantemente na virada de ano no calendário ocidental (tudo isso hipoteticamente, pois existem muitas denúncias de que os dados apresentados pela China estariam mascarando algo muito maior). Essas visitas de cidadãos ou familiares de chineses ocidentalizados de outras nações é o momento em que o contágio internacional iniciou. Em seguida voltaram para seus lugares de moradia em outras regiões do mundo entre 1 e 6 de janeiro. Ou seja, nessas datas o vírus começou a se espalhar pelo mundo. Qualquer data atual em relatório se refere aos contágios ocorridos nas datas anteriores citadas. Tanto é que isso só foi sentido depois, que a projeção de doentes só foi identificada pelo governo Chinês provavelmente no dia 22 (lembrem-se do cálculo de 21 dias) e no dia 23 isolou o epicentro do contágio, cidade de Wuhan com 11 milhões de pessoas. Era tarde demais. O vírus escapou da cidade no começo do mês como demonstrei. O caso segue se agravando e o governo chinês isolou mais 10 cidades com 41 milhões de habitantes no dia 24 de janeiro. Novamente chegam tarde e com atraso de 21 dias. A quarentena chinesa de 41 milhões de pessoas é, de longe, a maior operação de isolamento de uma população na busca de se isolar contágio por doenças na história da humanidade. Se o caso fosse pouco, os cientistas chineses (maior número de doutores com alto Q.I do mundo) não teriam dado essa orientação ao governo deles. Notem como essas datas de festividades são importantes para análise de como evoluem essas doenças. Tanto é verdade que o governo chinês cancelou a festa do ano novo deles, a mais importante festa da nação, que ocorreria em em 25 de janeiro de 2020 (ano do Rato, de prosperidade e portanto mais comemorado, e ainda assim, festa cancelada). Nos dias 25 e 26 de janeiro o contágio avança subindo para 1.000 contágios por dia, ou seja, média de 41 contágios por hora. Lembremos que esses são contágios da chegada de visitantes de Wuhan em suas cidades de destino, retornos ocorridos entre 2 e 5 de janeiro. Ocorre novas ondas, ampliando a exponencial nos últimos dias. Em 27 de janeiro, passando para 1 contágio por minuto, chegando em 29 de janeiro para 2 contágios por minuto em menos de 72h. O que significa que vemos no dia 30 de janeiro, data em que escrevo essa análise, o retrato de contágios ocorridos em 09 de janeiro. Precisamos lembrar que os dados das organizações envolvidas na investigação do avanço da pandemia apontam para o fator de que cada infectado contamina em média mais 3 pessoas (Número Básico de Reprodução - R0 ). É claro que isso se dá em condições normais. Imaginem no carnaval?! O registro aqui, do caso chinês, é o aumento de 10.000% de contágios ocorridos em 12 dias. Como o tempo de identificação da doença é de 21 dias (no Brasil 30) e a velocidade em que se espalha não para de acelerar, em semanas chegará às centenas de milhares (se medidas mais radicais forem feitas). O motivo é que cada nova região em que chegar o vírus, se reproduzirá como na situação ocorrida na China. E isso começou há acontecer no começo do ano e já se espalhou. Atualmente a taxa de crescimento dos contágios saltou de aproximados 1.25% por dia, para 33% de aumento de casos ao dia em uma janela de 20 dias. Quando passar de 100% ao dia, significa estar fora de controle. Mas essa tendência se confirmará consolidada após 51% de aumento de casos ao dia. Como temos o cálculo de 21 dias de delay (atraso) entre contágio e identificação, podemos afirmar que nesse grau de aceleração, o contágio do vírus já atingiu o ponto de consolidação da tendência de crise de pandemia global, no dia 28 de janeiro. Mas o governo chinês tomou medidas extremas entre 23 e 24 de janeiro, e algumas nações europeias e os EUA interromperam vôos da região, o que pode reduzir o impacto do Coronavírus no ocidente. Considerando aumento de taxa de 2% ao dia sobre a porcentagem anterior de aumento da escalada de contágios, já passou na data atual de 51% de novos contágios ao dia e já pode ter passado de 392 mil (projeção hipotética) casos ainda não identificados ocorridos entre 9 de janeiro e 30 de janeiro em todo mundo. Não necessariamente serão registrados, pois como informam os estudos, esse vírus apresenta sintomas leves para a maioria das pessoas, e por esse motivo passa despercebido. Essa tendência pode ser pior, ou ter declínio, dependendo das medidas tomadas por vários países entre 24 e 30 de janeiro, mas só surtirão efeito na queda de contaminação no final do mês de fevereiro, seguindo contágios em declínio nas semanas seguintes. Ainda que sejam apenas projeções, precisam ser consideradas, até para que não se consolidem com tendência. Até por isso, precisam ser levadas a sério como alerta. Ocorre que o Brasil não tomou medida alguma até a data de escrita deste artigo, pois é prática deste governo dormir ou não reagir diante de catástrofes. Vamos lembrar que o carnaval no Brasil será de 22 até 25 de fevereiro. Considerando que no Brasil o diagnóstico é atrasado, e que o cálculo de 21 dias não vale, precisamos considerar 30 dias para o diagnóstico impreciso, teremos um surto de coronavírus provavelmente entre 19 e 26 de março, com exponencial ascendente na semana seguinte, data de retorno dos turistas de carnaval para suas cidades natal, quando vão espalhar a doença para seus parentes, familiares, colegas de trabalho e comunidade. Neste ponto o Brasil vai atingir a mesma aceleração de contágio de mais de 51% de novos casos ao dia, entre 27 de março e 04 de abril. E os casos não serão registrados, sendo entendidos pelo governo, postos de saúde e contabilizados como uma simples gripe. Mas ao começo de 2021, quando os dados de saúde deste ano surgirem, lá estará a maior incidência de mortes por motivos respiratórios, acompanhado de retumbante negação de relação com Coronavírus. Portanto o governo brasileiro, bem como todos os cidadãos que tenham responsabilidade com as suas famílias e com a sociedade, precisam tomar providências e promover ações e recomendações imediatamente. Os indivíduos devem: Ter menos contatos com as pessoas, não ficar no mesmo ambiente com pessoas que pegaram qualquer vôo internacional no mês de janeiro e fevereiro (aviões e ônibus são lugares ideais para proliferação de vírus). Além disso o básico, lavar as mãos, álcool gel e máscaras. Cancelar viagens, fazer estoque de alimento, água etc. Quando? Já! O poder público deve: O Estado deve fechar as fronteiras aéreas para vôos de todas as nações asiáticas, e se o o coronavírus seguir se espalhando, fechar as fronteiras. Quando? Já! Os governos estaduais devem criar barreiras sanitárias, quarentenas e orientar as forças policiais em ações de identificação de pessoas com sintomas em trânsito (carros, aviões e ônibus) e internação preventiva compulsória. Bem como orientar através da mídia, campanhas preventivas. Quando? Assim que confirmados mais casos. Os municípios que recebem muitos turistas no carnaval devem cancelar a festa de 2020. Quando? Se os casos seguirem se confirmando. O tempo de tomada de decisão se reduz, e a janela para o Brasil tomar essas decisões é no máximo 15 de fevereiro, sete dias do carnaval, quando se terá alguma noção dos contágios do Coronavírus no Brasil e se as medidas tomadas na China surtirão algum resultado. Infelizmente, o ministro da Saúde, em entrevista, se manifestou desconhecedor do tema, e não demonstrou ter qualquer plano de contenção. O Brasil, por incompetência, está nas mãos da China ao tentar barrar o ciclo de vírus da Austrália, que tenta desenvolver um antídoto, e nas mãos de um governo que não tem compromisso com o povo. Portanto, são os cidadãos que devem agir preventivamente. Desculpem aos profissionais de outras áreas em caso de imprecisões. Mas os riscos e tendências, ainda com variáveis, mesmo que demonstrem outros números, estão corretas na identificação de problemas e soluções. Não se deve esperar confirmação dessas tendências, pois a ação preventiva é o que vai amenizar a catástrofe de saúde pública que pode ser observada no horizonte. *Manoel J de Souza Neto é cientista político **Algumas horas após a publicação deste artigo, a OMS declarou emergência global de saúde
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