Cinco coisas que aprendi observando política em 2019, por Wilson Gomes

"Joga-se na política hoje um jogo de soma zero: se incomoda os meus inimigos, meus amigos vão gostar"

Foto: Marcos Corrêa/PR
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Por Wilson Gomes* 1) Bolsonaro não é o pior dos bolsonaristas. Antes, deve ser um dos moderados. O bolsonarismo se define por ser intelectualmente grosso, democraticamente desagradável e politicamente bruto e não pedir desculpas por isso. Antes, jacta-se do fato. 2) Tudo o que Bozo faz ou diz é para o seu público, os bolsonaristas, não para você. Deixe de ser autorreferente. Você e eu não importamos enquanto audiência, só a nossa fúria é que é buscada.
3) Se você está chocado ou repugnado com algo que Bolsonaro, seus filhos ou seus ministros disseram ou fizeram, este era exatamente o propósito. Você está justamente no lugar onde Bolsonaro queria. 4) Joga-se na política hoje um jogo de soma zero: se incomoda os meus inimigos, meus amigos vão gostar. O princípio é "nenhum dia sem uma grosseria, uma afronta, uma ofensa, uma provocação". Os inimigos (sim, inimigos) precisam ser estar perenemente incomodados para que os amigos estejam perenemente satisfeitos. 5) Como acontece com todo movimento religioso, quanto mais você bate no bolsonarismo mais os crente se sentem confirmados na sua fé, mais coesos, mais identificados uns com os outros. O bolsonarismo é um movimento identitário e, noves fora os valores em causa, funciona com a mesma lógica sectária dos movimentos identitários de esquerda: não cresce quando você bate, mas fica mais radical e mais ativo. O ataque dos adversários externos é o combustível que acende e alimenta o fervor da seita. *Wilson Gomes é professor de Teoria da Comunicação na Universidade Federal da Bahia