Governo psicopata: morra sem vacina, como refém, nas mãos de lunáticos

Paranoia, vaidade doentia, crueldade e um mau-caratismo incorrigível podem levar 170 milhões de brasileiros a ficarem sem imunização contra a Covid-19. Bolsonaro age como um imperador absoluto e só vai sossegar quando nos conduzir ao caos

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Escrito en OPINIÃO el

Já cansou. É uma repetição diária, infinita, enjoativa e que leva quase todo mundo a pensar em desistir. Impossível viver debaixo dessa lona circense chamada Brasil e não ventilar que talvez a melhor hipótese seja jogar a toalha.

Debaixo de uma escalada autoritária sem precedentes (e inimaginável até poucos anos), o país desce a ladeira da indigência rumo aos bueiros sombrios da falta de humanidade sistemática. Temos um governo que age pelo mal, disposto a levar até às últimas consequências seus disparates irracionais.

Uma das maiores insanidades veio ontem, da boca do próprio Jair Bolsonaro: o presidente mandou suspender, aos berros, o acordo costurado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, com os Estados, que previa a distribuição para todas as unidades federativas da vacina CoronaVac, até agora confirmada apenas para os paulistas.

Chamou o imunizante de "vacina chinesa" e "vacina do João Doria". Deixou claro, sem qualquer rodeio, que prefere ver a população brasileira sem proteção contra a Covid-19 do que permitir o fornecimento de uma vacina produzida na China e trazida ao país por seu inimigo mortal, o governador de São Paulo.

Ou seja, nos lançou à morte.

Numa alquimia grotesca, misturou sua psicose anticomunista cafona, anacrônica e delirante (para agradar sua base eleitoral psiquiátrica), com uma vaidade descontrolada e cega. Pela milésima vez gritou que quem manda é ele e que ninguém irá tirar sua autoridade.

Parece até brincadeira, mas o homem que acredita em todo tipo de estupidez, mentiras e teorias conspiratórias, que atochou no povo cloroquina, azitromicina e ivermectina (pura simpatia, sem efeito terapêutico) e que mandou o Ministério de Ciência e Tecnologia fazer uma apresentação de Ensino Fundamental, com um gráfico falso, atestando a eficácia inexistente da nitazoxanida, afirma que "não fará a população de cobaia" usando a "vacina chinesa", desenvolvida e fabricada por um dos maiores polos científicos do planeta.

Hoje pela manhã ainda confirmou suas bobagens vergonhosas. Numa entrevista à rádio Jovem Pan disse que a vacina produzida pelo laboratório chinês "não transmite segurança, pela sua origem".

É duro aguentar essa cascata de imbecilidades vinda de alguém que representa nossa nação.

Até o casario colorido de Olinda sabe dos graves desvios de personalidade e de caráter de Jair Bolsonaro, mas agora parece ter ficado claro até para parte significativa de seus seguidores que ele agirá de forma mesquinha, sem qualquer resquício de humanidade, para fazer valer suas vontades inconfessáveis, afagando sua base política em transe e objetivando supostos dividendos eleitorais.

A reação foi generalizada. Mesmo figuras pouco probas do mise-en-scène político nacional ficaram assustadas com a malignidade da fala de Bolsonaro. Às vezes é inacreditável ver o homem que ocupa a cadeira de chefe de Estado tomando atitudes tão baixas, de tamanha vilania, que colocam as vidas de milhões de compatriotas em perigo.

Devemos lembrar que antes deste episódio, Bolsonaro já havia dado declarações que acenavam positivamente aos movimentos antivacina, posicionando-se contra a obrigatoriedade da imunização. Não há líder político sério no mundo que defenda tais ideias. Movimentos antivacina são criminosos e colocam em risco a saúde pública. São uma ameaça à vida em sociedade.

Sua prepotência burra e desmedida também dá náuseas. Não me recordo de ter visto alguma vez na vida um sujeito de intelecto tão limítrofe empavonando-se tão soberbamente da própria ignorância. O caso parece médico.

Paranoia, vaidade doentia, crueldade e um mau-caratismo incorrigível podem levar 170 milhões de brasileiros a ficarem sem imunização contra a Covid-19. Bolsonaro age como um imperador absoluto e só vai sossegar quando nos conduzir ao caos.

Mas há outras faces igualmente horripilantes nessa mixórdia dramática. Também provoca um assombro paralisante a inércia das instituições da República e do ecossistema político, de todos os matizes. Não seria possível compreender que essa moleza e condescendência com Bolsonaro formarão a própria forca onde essas personagens serão penduradas?

Restou de esperança o posicionamento aguerrido dos governadores. Da esquerda à direita, a rebelião dos líderes estaduais marcha para cima do presidente. Eles prometem judicializar as decisões malucas unilaterais do descompensado do Planalto.

Até que uma vacina fique finalmente pronta, teremos que aguentar as bravatas e ameaças covardes de Jair Bolsonaro. Só com um cenário mais definido sobre a imunização e a eficácia desses produtos é que poderemos pressionar por ações dignas de um governo comprometido com seu povo.

Por enquanto, vamos aturando uma maluquice por dia. Já estamos acostumados à maldade patológica e às mentiras compulsivas do Calígula do Vale do Ribeira.

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