Advogado que não imputa crime aos seguranças do Carrefour ataca vereador negro por pichar toldo

Renato Freitas (PT) vem recebendo críticas por ter pichado "racistas" em um toldo de um Carrefour de Curitiba em ato contra o assassinato de João Alberto; "Aproveitam qualquer brecha para nos tachar como bandidos"

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Um dos poucos vereadores negros eleitos para a Câmara Municipal de Curitiba, Renato Freitas (PT) vem sendo alvo de críticas por ter ajudado a organizar, na capital paranaense, alguns entre as dezenas de atos que estão sendo encampados contra o assassinato de João Alberto, homem negro morto por seguranças de uma loja do Carrefour em Porto Alegre (RS).

As críticas ao vereador eleito vêm sendo motivadas, principalmente, por uma postagem do advogado curitibano Jeffrey Chiquini, que publicou uma foto em que Freitas aparece pichando a palavra "racistas" em um toldo do Carrefour. Na publicação, Chiquini chama o petista de "oportunista" e afirma que ele cometeu "crime contra o meio ambiente". "Não se luta por direitos, violando direitos e descumprindo as leis", escreveu o advogado.

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Antes de criticar o vereador, Chiquini havia feito outra postagem em que relativiza a responsabilidade dos seguranças que assassinaram João Alberto. "Não imputarei crime aos seguranças, pois não conheço a integralidade do caso", escreveu.

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Pelo Instagram, o vereador eleito postou as fotos em que ele aparece pichando o toldo do Carrefour e que vêm sendo usadas para atacá-lo e fez um longo desabafo sobre o assunto.

"Levamos cartazes e escrevemos frases como 'Carrefour Racista' em lugares estratégicos para que todos pudessem ver e parar de naturalizar nossas mortes. Não houve caso algum de violência, nem entre os manifestantes, nem seguranças do mercado e nem com a polícia que chegou depois e respeitou a manifestação legítima", diz um trecho do texto postado pelo vereador.

"Mas o zé povinho falador que fica aproveitando qualquer brecha para tentar nos tachar como “bandido” já veio com uma foto em que estou escrevendo 'Racistas' num toldo velho do Carrefour, e dizendo “nossa senhora, sempre soube que esse rapaz não prestava, é um vândalo”. As mesmas pessoas que para não lerem o que escrevi, preferem condenar a maneira que escrevi. Esse espanto com cinquenta centímetros de plástico véio é praticamente inexistente em relação ao assassinato do João", completou Freitas.

Em outro ponto da postagem, o vereador cita o advogado que vem o criticando. "Inclusive fui no facebook do tal (aparentemente) advogado da polícia militar que está se empenhando tanto em tentar me atingir, e vi que ele estava, como que querendo agradar seus potenciais clientes, justificando o assassinato por conta das anotações criminais da vítima. Não há crime cometido pelos seguranças, foi legítima defesa, diz o advogado da polícia.
Mas no meu caso há crime sim, diz ele em defesa da superfície dos cinquenta centímetros de lona azul do Carrefour", postou o petista.

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Confira a íntegra do texto do vereador.

João Freitas poderia ser eu, como foi todas as vezes em que tive que perguntar para o segurança o porquê daquele olhar desacreditado que nos diminui enquanto nos persegue pelos corredores. Querem que a gente pense que o problema tá com a gente, e que “a vida é assim”. E quem pensa diferente, não aceita, vai até o segurança e diz “quanto que é o quilo do pescoço?”, é visto como o inimigo que não conhece seu lugar. Logo vieram os super-heróis, pronto pra espancar um vilão negro. Tavam em dois e mais preparados, poderiam ter imobilizado, mas quiseram torturar, estavam gostando daquele momento, estavam realizando um desejo, era mais que violência, era crueldade. Afirmação do racismo sobre aquele que ousou confrontá-los.

João foi brutalmente assassinado na presença da própria esposa. “Gente negra, gente pobre, gente menor”, dizem eles com os olhos que condenam. Seja na faculdade, na rua ou no mercado. Segurança pública ou privada. O lugar não importa, muitas vezes nem o que a gente tá fazendo importa, porque eles se incomodam mesmo é com nós, o racismo é um negócio, antes de tudo, pessoal.

E pra mim é pessoal também. Se o irmãozinho tá sendo linchado lá no RS nas mesmas condições que eu aqui, então mais do que nunca a dor dele é a minha também, pois como Martin Luther King, acredito que “a injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”.

Foi com isso em mente que ajudei a organizar as manifestações de ontem e antes de ontem - 20 e 21 de novembro – de BOICOTE AO CARREFOUR na loja do Parolin. Somaram nos dois dias mais de 700 pessoas, o mercado fechou as portas, nós fechamos os portões, levamos cartazes e escrevemos frases como “Carrefour Racista” em lugares estratégicos para que todos pudessem ver e parar de naturalizar nossas mortes. (continua nos comentários)

Não houve caso algum de violência, nem entre os manifestantes, nem seguranças do mercado e nem com a polícia que chegou depois e respeitou a manifestação legítima.

Aliás, até o Chefão lá do Carrefour apareceu agora pouco no Fantástico dizendo que as manifestações (mesmo a que queimaram parte da loja como em SP) são legítimas e que eles entendem a revolta das pessoas e da família. Mas o zé povinho falador que fica aproveitando qualquer brecha para tentar nos tachar como “bandido” já veio com uma foto em que estou escrevendo “Racistas” num toldo velho do Carrefour, e dizendo “nossa senhora, sempre soube que esse rapaz não prestava, é um vândalo”. As mesmas pessoas que para não lerem o que escrevi, preferem condenar a maneira que escrevi.

Esse espanto com cinquenta centímetros de plástico véio é praticamente inexistente em relação ao assassinato do João. Inclusive fui no facebook do tal (aparentemente) advogado da polícia militar que está se empenhando tanto em tentar me atingir, e vi que ele estava, como que querendo agradar seus potenciais clientes, justificando o assassinato por conta das anotações criminais da vítima.

Não há crime cometido pelos seguranças, foi legítima defesa, diz o advogado da polícia.

Mas no meu caso há crime sim, diz ele em defesa da superfície dos cinquenta centímetros de lona azul do Carrefour. E esse deve ser punido exemplarmente, pois cometido, como disse um dos policiais no post do tal advogado, por um “negro cotista”.

RACISTAS OTÁRIOS NOS DEIXEM EM PAZ!