Mulher é vítima de racismo em hipermercado no RJ; MP pede R$ 50 milhões em indenização

Funcionária do Atacadão foi demitida após denunciar racismo de colega

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Ofensas raciais acarretam graves consequências psicológicas para a vítima. A cada dia, vemos mais e mais casos acontecerem em nosso país.

Nesta segunda-feira (31), Fórum reportou a história da mulher negra que foi espancada por guardas municipais, em São Paulo, sem que houvesse o menor motivo para as agressões a não ser, segundo a vítima, o racismo e a misoginia.

Também nesta segunda-feira, mais um relato de racismo veio à tona. O caso se deu no Hipermercado Atacadão, que fica na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

A auxiliar de cozinha, Nataly Ventura Silva (31), disse que vinha sofrendo ofensas raciais de um colega de trabalho há algum tempo. O homem, identificado como Jeferson Emanuel Nascimento, costumava zombar de Nataly por ela ser negra e praticante do candomblé.

Dessa vez, Nataly Ventura encontrou em seu local de trabalho um avental onde estava escrito à caneta: "só para branco usar".

"Eu me senti menor que uma formiguinha. Eu me senti tão mal que eu fui pra trás chorando, cheguei em casa chorando e fiquei com aquilo na cabeça perguntando o porquê, mas não sou eu que tenho que me perguntar o porquê", desabafou a mulher ao portal G1, abalada psicologicamente pela ofensa do colega.

A funcionária fotografou a frase escrita no avental e procurou providências, mas acabou sendo demitida do emprego por ter "se envolvido em situações de conflito com outros funcionários", segundo justificou o estabelecimento.

Porém, levado ao Ministério Público, o caso tomou outro rumo.

O MP do Rio quer que o hipermercado, que pertence ao Grupo Carrefour, pague uma indenização de até R$ 50 milhões por dano moral coletivo, além da recontratação da vítima.

"O que nós buscamos é que a empresa crie um ambiente de trabalho seguro para os seus trabalhadores. Hoje, a gente vive numa sociedade só para branco usar. E a nossa resposta quanto sociedade é qual? É a mesma resposta da chefia da Nataly, é apagar, esquecer, esconder. O que nós não podemos é continuar perpetuando essa prática", declarou a procuradora Fernanda Barbosa Diniz, em entrevista á GloboNews.

Jeferson, por sua vez, nega que seja racista. Ele disse que tudo não passava de brincadeira de colegas trabalho.

A auxiliar de cozinha, por sua vez, não achou nada engraçado. "Isso tem que parar. Até quando a gente vai viver se escondendo? Até quando a gente vai viver acuado por conta do preconceito alheio? Eu não acho certo, não acho justo comigo. Cheguei a ficar envergonhada”, relatou.

Jeferson foi demitido, mas o Ministério Público disse que o hipermercado só tomou essa medida depois que promotores moveram ação contra o estabelecimento.

Políticas de Diversidade

O Hipermercado Atacadão, por sua vez, se pronunciou sobre o ocorrido e afirmou que se colocava contra "qualquer tipo de discriminação". O comércio também declarou atuar a partir de sérias políticas de diversidade, como pontua através de uma nota oficial acerca do episódio, divulgada por sua assessoria de imprensa:

“O Atacadão atua a partir de políticas sérias de diversidade e repudia veementemente qualquer tipo de discriminação. Assim que tomou conhecimento do caso por meio do Ministério Público do Trabalho, abriu rigorosa sindicância para apurar o ocorrido, que resultou no desligamento do colaborador em questão. A empresa reforça que, quando a denúncia do episódio mencionado foi realizada, a colaboradora já tinha sido desligada após avaliação de desempenho do período de experiência de 90 dias. O Atacadão conta com um canal exclusivo para denúncias, para que os funcionários possam reportar casos internamente de forma anônima”