“Não descartamos greve”, diz coordenador da comissão de funcionários do Banco do Brasil

Para João Fukun, a economia que o BB afirma que terá com o fechamento de agências e a demissão de funcionários servirá para elitizar e precarizar o atendimento do banco público

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A iniciativa do governo Bolsonaro, que prevê o fechamento de centenas de agências do Banco do Brasil (BB) e a demissão de cerca de 5 mil funcionários, pode provocar um movimento grevista. A informação é de João Fukun, coordenador nacional da comissão de empresa dos funcionários do banco.

“Não descartamos greve, mas depende do esforço da categoria. Temos procurado os parlamentares, que entendem a importância do Banco do Brasil. Temos envolvido prefeitos e vereadores e o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) produziu material mostrando o que é essa restruturação”, relata Fukun.

A ideia do governo federal é fechar 361 unidades, sendo 112 agências, sete escritórios e 242 Postos de Atendimento (PA), além da conversão de 243 agências em postos de atendimento e a “transformação” de 145 unidades de negócios em Lojas BB, estes dois últimos, sem gerentes e guichês de caixa.

“O Banco do Brasil anunciou que a tal restruturação vai gerar economia de R$ 300 milhões. Mas, diante dos lucros recordes da instituição, quase 122% em 2020 em comparação com 2019, essa economia chega a ser burra. Na verdade, é uma economia para elitizar e precarizar o atendimento do banco público”, avalia o coordenador da comissão.

Ele destaca que serão fechadas agências em cidades onde a unidade do Banco do Brasil é o único local de atendimento ao público. As pessoas precisarão se deslocar duas a três horas para conseguir o atendimento bancário.

Agricultura familiar

“Além da falta de atendimento ao público em geral, estão fechando agências no interior, as que propõem crédito para a agricultura familiar. Isso prejudica a economia responsável por 70% dos alimentos que todos consomem”, destaca Fukun.

Em relação a cidades grandes como São Paulo, segundo o coordenador, serão prejudicados os atendimentos à micro, pequena e média empresa, que geram empregos imediatos e diretos, diferentemente de grandes empresas. “Isso mostra, mais uma vez, a incompetência na gestão econômica”.

Ele revela que o Banco do Brasil foi responsável por R$ 6,9 bilhões em empréstimos diretos para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), no momento de pandemia do coronavírus.

“Foram 110 mil micros, pequenas e médias empresas que correram atrás desse crédito. Focar no agronegócio, como o banco sugere, é entrar num mercado altamente competitivo, com Bradesco, Itaú, Santander, que têm profusão no agronegócio e são agroexportadores. Não atuam na agricultura familiar”, compara.

Atendimento digital

Fukun ressalta que o atual momento de pandemia do coronavírus faz com que o atendimento digital aumente. Porém, isso, de acordo com ele, ocorre, especialmente, com a classe média.

“Nas chamadas classes C, D e E, o aumento do atendimento digital não se consolida nessa rapidez. Basta fazer uma consulta rápida a qualquer trabalhador terceirizado de empresa. Eles não utilizam os canais digitais dos bancos, mas, sim, procuram ir às agências. Ou seja, o fechamento, principalmente na periferia, vai prejudicar diretamente o trabalhador de baixa renda e a população mais carente”, acrescenta.