ECONOMIA

PIB de 2021 expressa "aprofundamento da desigualdade", diz economista

Marcio Pochmann diz que o crescimento de 4,6% recupera em parte a queda histórica em 2020, mas não os 7 anos de recessão histórica e revela uma "economia aberta e repleta de furos, como um queijo suíço"

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.Créditos: Edu Andrade/Ascom/ME
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Comemorado pelo governo e por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), o crescimento de 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 recupera em parte a queda histórica em 2020, mas não a paralisia de 7 anos da recessão história que o Brasil vive desde o processo que resultou no golpe de Dilma Rousseff (PT) e resultou na eleição de um governo neoliberal protofascista disposto a "passar a boiada" para cumprir acordos com a elite e o sistema financeiro.

Para o economista Marcio Pochmann, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os dados divulgados nesta sexta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam, sobretudo, o aumento da desigualdade no país, fruto de um governo que abandonou as políticas sociais para privilegiar endinheirados.

"A recuperação parcial de 2021 foi muito heterogênea, expressando o aprofundamento da desigualdade nacional. O consumo das famílias e o seu endividamento, o nível da ocupação e e taxa real salários não voltaram ao que era em 2019", disse Pochmann à Fórum, ressaltando que "dados do IBGE indicam que a economia brasileira saiu da recessão de 2020, sendo o PIB do 4° trim/21, 0,5% superior ao 4° trim/19, porém ainda 2,8% inferior ao que era em 2014".

Para ele, o PIB de 2021 revela que o Brasil virou um queijo suíço. "A situação atual do PIB expressa problemas estruturais", diz ele, citando em princípio que se trata de "uma economia muito aberta e repleta de furos, como um queijo suíço, pois para crescer 1 ponto percentual, as importações precisam crescer 2,7 pontos percentuais. Como as exportações não conseguem crescer no mesmo ritmo das importações, o crescimento fica truncado com problemas no balanço de pagamentos".

Pochmann afirma ainda que, embora o governo pregue teses neoliberais, como a livre concorrência, para baixar preços, o que se vê, na prática, é que essas medidas acarretam justamente contrário, com grandes grupos puxando a alta da inflação.

"Com a estagnação muitas empresas fecharam, aumentando a presença dos oligopólios que elevam o seu grau de monopólio na fixação dos preços finais. Assim, diante de qualquer efeito decorrente de maior demanda ou custos de produção, as grandes empresas repassam para preços, objetivando manter estável a margem de lucro. Mas isso produz inflação que corrói a renda da população. Com inflação maior, o banco central eleva a taxa de juros e contém o ânimo do possível crescimento econômico", explica.

O economista ainda prevê um quadro nebuloso para a economia brasileira no ano eleitoral de 2022. "Considerando as projeções para 2022, o país seguirá com sua economia abaixo do que estava em 2014. Não há paralelo histórico. A mais grave crise do capitalismo brasileiro. São 7 anos de paralisia, de uma economia sem rumo, que caiu da 6° para 13° posição entre as maiores do mundo", conclui.