Bolívia investiga participação do governo Bolsonaro em golpe contra Evo

Luis Fernando Camacho, que protagonizou a invasão do Palácio do Governo com uma Bíblia, foi recebido por Ernesto Araújo, então chanceler de Jair Bolsonaro, meses antes do golpe contra Evo Morales, ocorrido em 2019

Ernesto Araújo, Carla Zambelli e Luis Fernando Camacho (Reprodução/Facebook)
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O governo da Bolívia investiga uma suposta participação do governo Jair Bolsonaro no violento golpe de estado que depôs Evo Morales da presidência do país em novembro de 2019.

Em entrevista à emissora de rádio do sindicato dos cocaleros neste sábado (17), Jorge Richter, porta-voz do governo boliviano, diz que as investigações indicam que além da Argentina, Chile e Brasil podem ter auxiliado no golpe.

"Isso está sendo observado. Vamos investigar quais são as relações que podem ter ocorrido naquele momento no que diz respeito a ajudas e contribuições do Chile e do Brasil", afirmou.

Nesta semana, o Ministério Público da Argentina abriu investigação a pedido do governo Alberto Fernández para investigar o contrabando de armas e munições promovido pelo ex-presidente, Maurício Macri, para repressão aos atos após o golpe na Bolívia.

A Casa Rosada denunciou Macri e seus funcionários na última terça-feira (13) por enviar, ao menos, 70.000 balas anti-tumulto. Segundo o governo o objetivo era “colocar esse material repressivo a disposição da ditadura que recém havia tomado o poder, com Jeanine Áñez”.

Itamaraty
Um dos principais personagens do golpe na Bolívia, Luis Fernando Camacho, que protagonizou a invasão do Palácio do Governo com uma Bíblia, foi recebido por Ernesto Araújo, então chanceler de Jair Bolsonaro, em maio de 2019 para tratar sobre a Bolívia.

Araújo negou, por todo o tempo, que havia um golpe na Bolívia. “Não há nenhum golpe na Bolívia. A tentativa de fraude eleitoral maciça deslegitimou Evo Morales, que teve a atitude correta de renunciar diante do clamor popular. Brasil apoiará transição democrática e constitucional. Narrativa de golpe só serve para incitar violência”, declarou.

Na época, áudios revelados pelo jornal boliviano El Periódico mostram um interlocutor falando do apoio “das igrejas evangélicas e do governo brasileiro” ao golpe e de um suposto “homem de confiança de Jair Bolsonaro, que assessora um candidato presidencial”. “Temos que começar a nos organizar para falar de política nas igrejas, como já se faz a muito tempo no Brasil, que já tem deputados, prefeitos e até governadores da igreja (evangélica)”, diz.

Presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Camacho lançou sua candidatura nas últimas eleições presidenciais da Bolívia, mas foi derrotado por Luis Arce.

Camacho aparece na lista do caso que ficou conhecido como Panamá Papers como intermediáro e dono de empresas offshore que seria usadas para lavagem de dinheiro de origem duvidosa, especialmente em casos de corrupção.