A dias das eleições, ditadora da Bolívia elogia papel das Forças Armadas no golpe de 2019

“São os impulsores da democracia”, disse Jeanine Áñez, que foi imposta no poder pelos militares. Pleito acontecerá no domingo e pesquisas indicam que o favorito é Luis Arce, candidato do partido de Evo Morales, presidente derrubado pelo golpe

A ditadora boliviana Jeanine Áñez (foto: Página Siete)
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Faltando apenas 6 dias para as eleições presidenciais na Bolívia, a ditadora Jeanine Áñez fez uma curiosa declaração à imprensa local, com rasgados elogios às Forças Armadas.

Segundo ela, no dia 10 de novembro de 2019, os militares não deram um golpe de Estado contra o então presidente Evo Morales. Para Áñez, eles “disseram não a uma ditadura, um período autoritário e populista de 13 anos, e foram os impulsores da democracia no país”.

Jeanine Áñez assumiu o poder no dia 12 de novembro de 2019, por imposição das Forças Armadas, depois que Evo Morales já estava no exílio – naquele então, no México, agora ele está na Argentina. Na ocasião, ela afirmou que seu mandato seria de “transição”, e que organizaria eleições em fevereiro de 2020. Porém, acabou adiando a data três vezes, e inclusive chegou a ser candidata – algo que prometeu não fazer em um primeiro momento –, mas acabou desistindo depois, por se sentir eleitoralmente inviável.

O favorito para o pleito deste domingo (18) é o economista Luis Arce, que foi ministro de Economia do governo de Evo Morales e representa o MAS (Movimento Ao Socialismo).

Segundo as pesquisas mais recentes, Arce tem mais de 40% das intenções de voto, e caso consiga uma vantagem de mais de 10 pontos sobre o segundo colocado – que provavelmente será o jornalista Carlos Mesa, melhor posicionado dos representantes da direita –, pela lei eleitoral boliviana, seria eleito já no primeiro turno.

Curiosamente, esse é o mesmo cenário com o qual terminou a eleição do dia 10 de outubro de 2019, quando Evo Morales, candidato do MAS, venceu com 48% dos votos e 10,4% de vantagem contra o mesmo Carlos Mesa. No entanto, naquela ocasião, a direita reclamou de uma suposta fraude, apoiada em um informe da OEA (Organização dos Estados Americanos) que, meses depois, foi questionado por diferentes centros de estudos internacionais.

A acusação de fraude naquela eleição, embora nunca tenha sido comprovada de fato, serviu de justificativa para o golpe que derrubou Morales e levou Áñez ao poder.