Ao estilo Bolsonaro, rapper Kanye West cita Bíblia e chora ao falar sobre aborto em pré-campanha presidencial nos EUA

Artista lançou sua candidatura pelo “Birthday Party” (um trocadilho com a palavra em inglês que pode significar “partido” e também “festa”), e prometeu doar um milhão de dólares a todas as mulheres grávidas dos Estados Unidos que decidam não abortar

Foto: Reprodução/Instagram/Matt Marion @g4aperture
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A corrida presidencial nos Estados Unidos neste 2020 não se resumirá à velha disputa entre o Partido Republicano (que trabalhará pela reeleição do presidente Donald Trump) e o Partido Democrata (cujo candidato será Joe Biden, outrora vice-presidente, durante o mandato de Barack Obama).

Corre por fora uma terceira candidatura, do pitoresco Partido do Aniversário. Sim, o nome original dessa legenda é Birthday Party (um trocadilho com a palavra em inglês que pode significar “partido” e também “festa”), e seu candidato é o famosíssimo rapper Kanye West, que iniciou neste domingo (19) uma turnê que terá vários comícios, com o intuito de correr atrás do tempo perdido e se posicionar na corrida pela Casa Branca.

Neste fim de semana, o candidato esteve na Carolina do Sul, no litoral atlântico do país, e fez um discurso carregado de emotividade e uma produção que mais parece a de um show de música. Durante o evento, West e outros artistas fizeram apresentações musicais, houve show de luzes e fogos, e a presença da sua esposa, a celebridade Kim Kardashian. O evento foi transmitido ao vivo em várias redes sociais.

Mas foi o discurso de Kanye West que chamou a atenção. O rapper enfocou sua fala em temas polêmicos, como pornografia e pedofilia, e com um viés claramente conservador, lembrando o estilo usado por Jair Bolsonaro no Brasil – também apoiado em correntes nas redes sociais, que dispararam publicações e hashtags durante todo o evento, que se tornou trending topic mundial. Também falou sobre aborto, e chorou ao dizer que seu pai queria que sua mãe o tivesse abortado.

Como em vários outros momentos do evento, ele citou a Bíblia e disse que ela fez sua mãe decidir continuar com a gravidez. “Não teria havido um Kanye West se não fosse por este livro, porque meu pai estava ocupado demais (para se preocupar com ele)”, disse o rapper.

Poucos minutos depois, ele falou, já entre lágrimas, de quando quase decidiu abortar sua primeira filha, mas lembrou do seu próprio caso para decidir que não. “Quase matei minha filha. Eu amo a minha filha. Deus quer que nós acreditemos que sempre é possível lutar para dar um futuro para os nossos filhos”, afirmou o músico, abraçando sua esposa, Kim Kardashian.

Sua promessa mais chamativa teve a ver com o aborto. West prometeu que o estado norte-americano, em seu governo, criará um benefício no qual o Estado dará um milhão de dólares a todas as mulheres grávidas que decidam não abortar. “Pense no lugar dessa mulher que abortou: se você tivesse a oportunidade de receber um milhão de dólares só por estar grávida, não teria considerado? E então, passaria a ver seu filho como deve ser, como o maior presente da vida”, explicou o rapper.

A segurança também foi tema do discurso de West. Ele inclusive entrou no palco com um colete à prova de balas no qual estava escrito a palavra “security”, e prometeu que colocará pessoas negras no comando de todos os departamentos de polícia do país.

Outro momento chamativo da jornada foi o anúncio de um dos slogans da campanha, que faz referência ao país fictício de Wakanda. “Make Wakanda Great Again” (“Faça Wakanda Grande Novamente”), faz alusão ao lugar que, no universo dos filmes de herói da Marvel, seria um país africano super desenvolvido e possuidor de altíssima tecnologia. Com essa referência, West tenta se posicionar como um candidato da comunidade negra estadunidense e aproveitar a seduzir os manifestantes que participaram dos protestos após ao assassinato de George Floyd.

No entanto, West ainda não conseguiu inscrever a sua candidatura em todos os estados do país, e é possível que não consiga habilitação para ser votado em muitos deles, o que faz com que sua candidatura não esteja em pé de igualdade com a dos demais.