Apesar da melhora na economia, iranianos ainda sonham com liberdade e democracia

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Entenda o contexto irianiano às vésperas das eleições que definirão o próximo presidente do pais mais populoso do Oriente Médio Por Vinicius Sartorato*, colaborador da Rede Fórum Com aproximadamente 82 milhões de habitantes, o Irã é o país mais populoso do Oriente-Médio. Terceira maior economia da região, potência energética, tem uma característica mista, com planejamento centralizado e forte presença estatal em áreas como petróleo, gás, mineração, agricultura e manufaturados. País rico desde a perspectiva histórica - herdeiro do Antigo Império Persa – é o Estado que guarda uma das civilizações mais antigas do mundo, com registros datados em 7000 anos antes de Cristo. Com a queda da monarquia e a consolidação da Revolução Islâmica (1979), o país teve uma guinada política profunda que permanece até os dias atuais. De monarquia a teocracia autoritária, recentemente, chegou a ser classificado como membro do “Eixo do Mal” e, no governo Obama, firmou um acordo sobre o Programa Nuclear do país, que reduziu as sanções econômicas internacionais que sofria. Agora, o Irã prepara-se para mais uma eleição presidencial. Agendada para próxima sexta-feira (19), o pleito tem 4 candidatos na reta final, sendo o atual presidente, Hassan Rouhani, candidato à reeleição. Franco favorito nas pesquisas, com aproximadamente 50% das intenções de voto, Rouhani adotou um tom mais conciliador em sua gestão, bem­ diferentemente de seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad (2005-13). Apesar de também ser um partidário da Revolução Islâmica, o atual presidente é representante do Partido Moderação e Desenvolvimento, que tem uma linha pragmática e de centro-direita - moderada para os termos iranianos. A aproximação com o ocidente restabeleceu relações com os norte-americanos, britânicos e iraquianos, fatos que levaram a distensão das relações e até sua entrada na lista das 100 personalidades mais influentes do mundo (Revista Time). Entretanto, as relações ainda permanecem tensas com os sauditas, israelenses e turcos. No plano nacional, a retomada do crescimento positivo acima dos 4% desde 2014 foi decisiva para manutenção de sua popularidade, tal como as ações voltadas para aspectos democráticos e acesso à informação. Fatos que o levou a conquistar o apoio de minorias como os curdos, setores pró-democracia, o conhecido movimento verde, moderados laicos e socialistas, influenciados pelas idéias do 1º ministro deposto por britânicos e norte-americanos em 1953, Mohammad Mossadegh. O principal concorrente de Rouhani está à sua direita e chama-se Ebrahim Raisi, um clérigo islâmico conservador, doutor em Lei Islâmica, com longa carreira no meio jurídico e político. Raisi lançou sua campanha tendo como eixos principais o discurso de “mudança na administração do país”, bem como “combate à pobreza e corrupção”. Raisi conta com o apoio do prefeito de Tehran, Mohammad Ghalibaf. O Irã é considerado uma teocracia autoritária (The Economist); está entre os países mais corruptos do mundo (Transparência Internacional) e é ainda um dos países mais criticados pela Anistia Internacional e o Observatório dos Direitos Humanos por cometer graves abusos sobre temas como liberdade de expressão, direitos das mulheres, direito sindical, além de praticar censura sistemática e ser um dos países que mais pratica a pena de morte no mundo. Em resumo, dentro dos limites da Revolução Islâmica, Rouhani representa certa esperança popular contra o fanatismo religioso e político, entretanto seus críticos argumentam que apesar de seus discursos progressistas, poucas mudanças foram efetivadas. *Vinicius Sartorato é Sociólogo, Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização (Universidade de Kassel, Alemanha)

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