Áustria: Coalizão inédita entre populares e verdes governará o país

Coalizão entre populares e o Partido da Liberdade da Áustria (de extrema-direita) foi dissolvida após caso de corrupção

Foto: H. Neubauer
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Sob liderança do jovem Sebastian Kurz, o chamado Partido Popular (ÖVP), de centro-direita, fechou um acordo inédito com o Partido Verde, de centro-esquerda, na Áustria. Após ter vencido a eleição de outubro de 2017, o primeiro-ministro Kurz viu seu governo com a extrema-direita afundar rapidamente devido a um escândalo de corrupção de um dos seus ministros, justamente o principal líder da agremiação Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), Heinz-Christian Strache, no episódio que ficou conhecido como “Caso Ibiza”. Na ocasião, Strache, ao lado de um dos líderes de seu partido, negociava com mafiosos russos na ilha espanhola de Ibiza um esquema de financiamento político ilegal e controle midiático no país. O caso foi não só o motivo que destruiu a coalizão precocemente, tal como fez todos os ministros ultradireitistas abdicarem. Com isso, sem maioria, o país viu-se forçado a ter uma nova eleição. Nessa nova eleição, sem condições morais perante à população, o FPÖ foi duramente castigado e viu sua escalada eleitoral de uma década cair rapidamente, perdendo 10% dos votos. Por outro lado, o tradicional Partido Social-Democrata (SPÖ), de centro-esquerda, que governou o país por anos e consolidou-se como uma referência sobre o tema Welfare State, também encolheria 5% em relação à eleição de 2017, talvez por um cansaço de seu eleitorado, o aparecimento de novas questões e atores políticos. Desde então, além das questões econômicas, as chamadas “guerras culturais” ganharam força. Foi nesse vácuo que, à direita e remodelado, o jovem Kurz (ÖVP) conseguiu ser reeleito (+5%) como primeira força política e os verdes (Die Grünen), à esquerda, conseguiram um crescimento de 10% em relação à eleição de 2017. Em uma manobra controversa para muitos, Kurz teve a habilidade de coordenar um acordo com os verdes que são apenas a quarta força no parlamento. Com a rejeição dos socialistas em fechar um acordo com seus antigos aliados e a negação moral que caiu sobre a extrema-direita, o ÖVP agiu sobre o inesperado. Muitos analistas acreditam que os verdes estão caindo em uma armadilha - e serão engolidos. A centro-direita, percebendo a onda conservadora e populista, instigada pelo fluxo migratório massivo que o continente recebeu nos últimos anos, mostrou-se renovada no visual, mas adotou elementos do discurso do partido de extrema-direita. O Partido Verde, que tem o presidente do país - que cumpre o papel de chefe de Estado - aprovou em consulta interna e teve ampla maioria de seus filiados (+90%) para participar do governo e deve ocupar quatro posições dentro dos quinze ministérios do novo governo do primeiro-ministro Sebastian Kurz. Entretanto, apesar da participação no governo, os verdes viram o programa de governo pactuado eliminar várias de suas pautas históricas. Com o vice-chanceler, Werner Kogler, que acumulará a pasta de Esportes, os verdes terão ministérios importantes como Justiça, Saúde, Meio Ambiente e Cultura. Resta saber qual será a real influência deles em questões cruciais já negadas pelos populares, como taxação de ativos financeiros, diminuição da jornada de trabalho, pedágio de caminhões, ajuda social para famílias, mais verba para idosos desempregados -  pautas históricas compartilhada por Verdes e socialistas no país.