O governo da China anunciou nesta quarta-feira (3) uma série de sanções comerciais contra Taiwan, em resposta à visita da presidenta do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, à capital do território chinês que durou dois dias, terça-feira (2) e quarta-feira (3).
Em comunicado, o Ministério do Comércio chinês (MOC), informou que as políticas de exportação de itens como areia natural para Taiwan serão ajustadas. A decisão, segundo um porta-voz da pasta, foi tomada de acordo com as leis e regulamentos relevantes.
A suspensão das exportações de areia natural é um ato relevante, já que o continente chinês é um importante fornecedor dessa matéria-prima para concreto para Taiwan. Além disso, a areia de quartzo, um tipo de areia natural, é uma importante matéria-prima para a fabricação de chips.
O pesquisador-chefe do Centro de Intercâmbio Econômico Internacional da China, Zhang Yansheng, explicou que embora a mineração de areia natural tenha impacto no meio ambiente, o continente chinês exporta areia natural há anos para apoiar as obras de construção na ilha. "Para Taiwan, importar o produto de baixo valor agregado do continente chinês é o procedimento mais conveniente e barato", destacou.
Já o pesquisador sênior da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Econômica em Pequim, Zhou Mi, explicou que a suspensão das exportações de areia natural terá um impacto na construção de infraestrutura em Taiwan, o que pode afetar a atividade econômica geral na ilha chinesa.
O vice-presidente do Centro de Intercâmbios Econômicos Internacionais da China, Wei Jianguo, ex-vice-ministro de Comércio da China, comentou que Taiwan atualmente consome cerca de 90 milhões de toneladas métricas de areia natural em um ano, entre as quais um terço é do continente chinês. "A areia de quartzo, um tipo de areia natural, é uma importante matéria-prima para a fabricação de chips, e Taiwan é um importante fornecedor global de chips", ressaltou Wei.
Chanceler chinês: "Aqueles que ofenderem a China serão punidos"
O conselheiro de Estado chinês e ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, disse que a visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, à região de Taiwan da China foi uma "farsa completa" e "aqueles que brincam com fogo perecerão e aqueles que ofenderem a China serão punidos".
Wang fez as declarações à margem da reunião dos ministros das Relações Exteriores da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), realizada no Camboja nesta quarta-feira (3).
A repórteres, o chanceler chinês afirmou que os Estados Unidos têm violado a soberania da China sob o disfarce de "democracia". "Tsai Ing-wen, de Taiwan, e outros seguem a cauda dos Estados Unidos e agem contra a nobre causa da nação chinesa", afirmou.
"Essas ações perversas não alterarão o consenso internacional sobre o princípio de uma só China, nem a tendência histórica de que Taiwan retornará à pátria", finalizou Wang.
Para a China, condecoração de partido separatista de Taiwan a Pelosi é 'farsa política'
A entrega de uma medalha pelo Partido Democrático Progressista (DPP, da sigla em inglês) em Taiwan à presidenta do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, foi uma"farsa política". O comentário foi feito pelo porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China, Ma Xiaoguang, nesta quarta-feira (3).
A condecoração à Pelosi é uma das mais importantes da ilha. A 'Ordem das Nuvens Propícias com Grande Cordão Especial' foi entregue pela líder dos separatistas da ilha, Tsai Ing-wene, na manhã desta quarta-feira durante uma reunião em Taipei, capital do território chinês.
Ma relembrou que o ex-secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo, ex-diretor da CIA que disse certa teve um surto de sinceridade sobre a agência e declarou: "Nós mentimos, trapaceamos, roubamos", também foi condecorado com uma medalha semelhante pelo DPP.
"Que farsa política, o DPP 'concedeu' uma medalha a Pelosi", comentou. "O DPP vem seguindo o caminho de depender dos EUA para buscar a 'independência', cometendo uma série de más ações de servidão", observou o porta-voz. Ele alertou que o governo terá que pagar um preço cada vez mais insuportável, e seus esforços serão terminar em fracasso.
Apesar da forte oposição de Pequim, Pelosi chegou a Taiwan na noite de terça-feira e partiu da ilha na tarde de quarta-feira. A viagem incluiu um encontro com Tsai e uma visita a um museu de direitos humanos. Pelosi, a autoridade de mais alto escalão dos EUA a visitar Taiwan em um quarto de século, expressou apoio ao governo do DPP.
Ma condenou Tsai e o governo do DPP por promoverem teimosamente a viagem de Pelosi, dizendo que se opõem à nação chinesa.
Por muito tempo, Tsai e seu governo conspiraram com forças estrangeiras anti-China e se envolveram em atividades separatistas pela 'independência de Taiwan' em nível internacional, colocando em risco a paz no Estreito de Taiwan e a segurança das pessoas em Taiwan, afirmou o porta-voz.
Punições a separatistas
O Escritório de Assuntos de Taiwan também anunciou na manhã desta quarta-feira a punição de organizações relacionadas a elementos obstinados que buscam a 'independência de Taiwan'. O porta-voz nomeou duas organizações insulares - a Fundação de Taiwan para a Democracia e o Fundo de Cooperação e Desenvolvimento Internacional.
Ele afirmou que as duas organizações têm realizado atividades separatistas na arena internacional sob o pretexto de "democracia" e "cooperação e desenvolvimento". "Eles fizeram de tudo para agradar as forças estrangeiras anti-China", observou Ma.
As organizações também atacaram e difamaram o continente e usaram dinheiro e outros meios como isca para expandir o chamado "espaço internacional" de Taiwan, tentando minar o apoio internacional ao princípio de Uma só China, acrestou o porta-voz.
O continente decidiu tomar medidas punitivas contra as fundações, proibindo-as de cooperar com organizações, empresas ou indivíduos do continente, segundo o escritório.
A China também punirá, de acordo com a lei, quaisquer organizações, empresas ou indivíduos que ofereçam fundos ou serviços às fundações e tomará outras medidas necessárias, disse o escritório.
Organizações, empresas e indivíduos do continente serão proibidos de qualquer transação ou cooperação com empresas, incluindo Speedtech Energy, Hyweb Technology, Skyla e SkyEyes GPS Technology, que doaram dinheiro para as fundações. Os chefes dessas empresas serão proibidos de entrar no continente.
Há uma base legal clara para a China responsabilizar criminalmente os elementos obstinados que buscam a "independência de Taiwan", pontuou Ma. Ele disse ainda que o governo chinês tomará medidas para puni-los. .
O pesquisador do Instituto de Estudos de Taiwan da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Leng Bo, avaliou que o anúncio da punição dos separatistas da "independência de Taiwan" e organizações relacionadas mostra que qualquer indivíduo ou organização que busca a "independência de Taiwan" pagará um preço e ser punido.
"Acredita-se que as medidas terão um grande efeito dissuasor sobre as forças separatistas da 'independência de Taiwan'", afirmou. Ele acrescentou que isso fará com que as organizações e indivíduos de Taiwan saibam o que podem e o que não podem fazer.
Governo de Hong Kong condena visita de Nancy Pelosi a Taiwan
O governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK) da China expressou firme oposição e condenou veementemente a visita à região chinesa de Taiwan por Nancy Pelosi, presidenta do Congresso dos EUA.
O chefe-executivo de Hong Kong, John Lee, comentou que a visita de Pelosi desafia flagrantemente o princípio de Uma só China, mina seriamente a soberania e a integridade territorial da China, ameaça grandemente a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e viola gravemente as normas básicas que regem as relações internacionais.
Os principais funcionários do governo da região, incluindo o secretário-chefe da Administração Chan Kwok-ki, o secretário financeiro Paul Chan e o secretário de Justiça Paul Lam, também expressaram firme oposição e forte condenação à visita de Pelosi, que ignorou abertamente a séria preocupação e posição solene que o governo chinês tem repetidamente deixado clara.
Comunidade internacional expressa apoio à China para defender sua soberania e integridade territorial
A comunidade internacional expressou apoio à defesa da China de sua soberania e integridade territorial após a visita da presidenta do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan.
Pequim classifica a visita de Pelosi ao território chinês, a segunda na linha de sucessão presidencial nos EUA, uma "provocação política flagrante", já que trocas oficiais e contatos militares entre os Estados Unidos e Taiwan são proibidos nos três comunicados conjuntos sino-americanos.
Os militares da China anunciaram exercícios aéreos e marítimos conjuntos ao redor do Estreito de Taiwan de quinta a domingo como contramedidas. As forças armadas prometeram defender resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial e frustrar resolutamente a interferência de forças externas.
Mais de oito países e organizações até agora expressaram publicamente seu apoio a Pequim após a viagem.
A União Europeia reiterou o apoio à política de Uma só China e pediu resolução pacífica para as questões no Estreito de Taiwan. A declaração foi feita nesta quarta-feira (3) e ocorreu depois da visita de Pelosi à ilha chinesa, gesto que desafiou advertências do governo chinês e das forças armadas estadunidenses.
"Encorajamos uma resolução pacífica das questões através do Estreito. As tensões devem ser resolvidas através do diálogo. Canais apropriados de comunicação devem ser mantidos para reduzir os riscos de erros de cálculo", comentou um porta-voz do bloco de 27 países.
Ele comentou ainda que a UE tem interesse em preservar a paz e o status quo no Estreito de Taiwan".
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia dobrou o apoio do país ao princípio de Uma Só China, referindo-se à visita de Pelosi como minar a estabilidade regional e a segurança internacional.
"Operamos com a premissa de que existe apenas uma China, e o governo da RPC é o único governo legítimo que representa toda a China, que Taiwan é uma parte inalienável da China", escreveu o ministério em seu Twitter oficial na quarta-feira, com hashtags de "WeStandwithChina".
Em outro tweet mais tarde, Moscou criticou a "política agressiva" de Washington como uma clara provocação.
"Pedimos a Washington que se abstenha de ações, minando a estabilidade regional e a segurança internacional", escreveu o ministério.
A República Popular Democrática da Coreia (RPDC) denuncia com veemência a interferência de qualquer força externa na questão de Taiwan e apoia totalmente a posição justa do governo chinês de defender resolutamente sua soberania e integridade territorial, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da RPDC nesta quarta-feira, segundo a agência de notícias oficial KCNA.
"Taiwan é uma parte inseparável da China e a questão de Taiwan pertence aos assuntos internos da China", disse o porta-voz. "É o devido direito de um Estado soberano tomar contramedidas contra os movimentos das forças externas que interferem abertamente em seus assuntos internos e destroem sua integridade territorial.
"A situação atual mostra claramente que a insolente interferência dos EUA nos assuntos internos de outros países e suas provocações políticas e militares intencionais são, de fato, a causa raiz da paz e da segurança na região. desenvolvimento da China e seus esforços para realizar a causa da reunificação estão destinados a falir."
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela condenou a visita de Pelosi na terça-feira, chamando-a de "uma provocação direta que ameaça seriamente a soberania e a integridade territorial da China". Bielorrússia, Cuba, Síria e a Liga Árabe também disseram que apoiam o princípio de Uma Só China.
Pelosi teve encontro com presidente de empresa envolvida com escândalo de chips em Taiwan
A agenda de Nancy Pelosi nesta quarta-feira (3) em Taiwan incluiu encontro com o presidente da Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC). A empresa está no centro do escândalo sobre a compra de ações de chips pelo marido da parlamentar antes da aprovação de um projeto de lei de suporte a chips pelo Congresso dos EUA.
Segundo o jornal chinês Global Times, durante o encontro entre Pelosi e o executivo da TSMC, Liu Deyi, foi discutido o projeto de lei que tramita no legislativo dos EUA chamado CHIPS and Science Act. A proposta oferece US$ 52 bilhões para apoiar a fabricação de chips nos EUA, de acordo com um relatório veiculado pela revista Fortune nesta quarta-feira.