CHINA EM FOCO

Ciência e tecnologia: Por dentro da super reforma promovida pela China

De olho na disputa tecnológica com os Estados Unidos, o desenvolvimento de alta qualidade entrou no topo da lista de prioridades da segunda economia do mundo

Créditos: CGTN
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Num contexto de disputa pela hegemonia tecnológica entre as duas maiores potências mundiais, China e Estados Unidos, a promoção do desenvolvimento de alta qualidade está no topo da lista de prioridades do governo chinês. É o que garante o recém-nomeado primeiro-ministro chinês, Li Qiang, em declaração feita nesta segunda-feira (13).

"O desenvolvimento da China forneceu ao seu povo as necessidades básicas e se esforçará para melhorar sua qualidade de vida no próximo passo", afirmou Li durante entrevista após o encerramento da primeira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN).

O desenvolvimento se concentrará particularmente na melhoria das capacidades de inovação tecnológica, na construção de um sistema industrial moderno e na promoção da transição ecológica dos métodos de desenvolvimento, antecipou o premiê chinês. 

A legislatura nacional da China aprovou um plano de reforma para as instituições do Conselho de Estado, incluindo a reestruturação do Ministério da Ciência e Tecnologia, o estabelecimento de um departamento nacional de dados, a reforma da administração da propriedade intelectual e muito mais.

Alcançar a autossuficiência 

A reforma do Ministério da Ciência e Tecnologia inclui uma melhor alocação de recursos para enfrentar os desafios das principais tecnologias e avançar mais rapidamente em direção a uma maior autossuficiência em ciência e tecnologia.

A inovação científico-tecnológica desempenha um papel fundamental na construção da modernização da China, comentou  o Conselheiro de Estado e Secretário-Geral do Conselho de Estado, Xiao Jie, durante a primeira sessão da 14ª APN.

"Enfrentando a competição internacional de ciência e tecnologia e contenção e repressão externas, a China precisa suavizar ainda mais sua liderança e sistema de gerenciamento para trabalhos relacionados à ciência e tecnologia", afirmou o conselheiro.

Várias funções e agências existentes subordinadas ao ministério serão transferidas para outros órgãos governamentais. A pasta continuará a gerir a Fundação Nacional de Ciências Naturais, encarregada pelo trabalho de gestão da investigação e infraestruturas básicas e grandes projectos, e atuará para amenizar os gargalos tecnológicos que precisam de mobilizar recursos nacionais.

Como parte da reforma, o ministério reestruturado assumirá responsabilidades como órgão de trabalho de uma comissão central de ciência e tecnologia recém-criada. Esse colegiado vai unificar, coordenar e mobilizar vários setores.

Departamento de Dados

A China criará um departamento nacional de dados, que é outro movimento significativo no plano de reforma. A agência será responsável por promover o desenvolvimento de instituições fundamentais relacionadas a dados, coordenar a integração, compartilhamento, desenvolvimento e aplicação de recursos de dados e impulsionar o planejamento e a construção de uma China digital, economia digital e sociedade digital, entre outros.

O novo órgão será administrado pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC, da sigla em inglês), o planejador econômico da China. Certas funções existentes do Escritório da Comissão Central de Assuntos do Ciberespaço e da NDRC serão transferidas para a nova estrutura.

A nova agência vai melhorar a eficiência do gerenciamento e governança de dados ao coordenar e desenvolver padrões de troca dessas informações. Essa mudança contribuirá para otimizar a aplicação e o compartilhamento de dados, agregar valor aos dados e aumentar a eficiência da aplicação de dados para apoiar a China no desenvolvimento de uma economia e sociedade digitais.

As funções relacionadas a dados estão atualmente dispersas entre diferentes órgãos governamentais na China. Com a criação do escritório, os recursos podem ser integrados para impulsionar totalmente a construção de uma China digital e o desenvolvimento da economia do país.

Os dados se tornaram outro fator-chave de produção ao lado de terra, trabalho, capital e tecnologia. Nessa realidade, o país asiático pretende fazer progressos importantes na construção de uma China digital até 2025 e se classificar entre as principais nações em desenvolvimento digital até 2035.

Segurança de dados

A segurança dos dados é uma questão importante na era digital, e a nova agência pode fornecer proteção mais forte para a segurança dos dados para evitar vazamento e abuso de dados. 

À medida que a escala da economia digital da China subiu para o segundo lugar globalmente, grandes incidentes de segurança, como vazamento de dados, também cresceram nos últimos anos. Foi o que revelou o funcionário do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação Lei Nan nesta terça-feira (14), em um evento sobre segurança de dados em Xangai.

Atualmente, há lacunas sobre como regular a coleta, o armazenamento, o processamento e a destruição de dados sensíveis dos usuários. Faltam meios técnicos maduros, padrões de gestão e mecanismos de supervisão. 

Em um futuro breve todas as operações nas cidades serão baseadas em dados com o big data que está no centro da economia digital. Por isso, a segurança dos dados tornou-se mais importante do que nunca. Ao estabelecer a nova agência será possível promover o fluxo seguro e ordenado de fatores de dados do design de nível superior.

Cooperação global

O novo departamento poderá promover a construção de um sistema global de governança e segurança de dados e fortalecer a cooperação com outros países e organizações internacionais para lidar conjuntamente com as ameaças globais desse setor. Pode também contribuir para a promoção do desenvolvimento e a prosperidade da economia digital global.

Propriedade intelectual

Com o objetivo de se adaptar à demanda de construir um país de inovação, a China vai aprimorar o mecanismo de gestão dos direitos de propriedade intelectual (DPI, na sigla em inglês) para atualizar a criação, aplicação, proteção e gerenciamento desse setor

A Administração Nacional de Propriedade Intelectual da China (CNIPA, da sigla em inglês), atualmente administrada pela Administração Estatal de Regulação do Mercado, será ajustada em uma instituição diretamente subordinada ao Conselho de Estado.

Essa mudança vai contribuir para que a CNIPA se concentrar mais na melhoria da qualidade das patentes e marcas registradas concedidas para promover melhor a inovação e o desenvolvimento de alta qualidade.

A China lançou um plano para proteção de DPI em setembro de 2021 com o objetivo de aumentar a competitividade em propriedade intelectual para estar entre as principais nações até 2035.

De acordo com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), a China liderou o mundo em volume internacional de pedidos de patentes em 2022 com o registro de mais de 70 mil pedidos sob seu Tratado de Cooperação de Patentes para proteção de patentes.

Big data e inteligência artificial 

A expectativa de especialistas é de que o novo órgão promova a inovação na aplicação de dados e no desenvolvimento industrial, como big data, inteligência artificial (IA) e Internet das Coisas ao promover processos, incluindo coleta de dados, armazenamento, processamento, limpeza e pré-etiquetagem para o setor de big data.

A potência asiática pretende fazer progressos importantes na construção de uma China digital até 2025 e se classificar entre as principais nações em desenvolvimento digital até 2035, de acordo com um plano de desenvolvimento digital divulgado em 27 de fevereiro.

Em relação à indústria de IA, a agência aumentará o algoritmo de dados e o poder de computação, que inclui o poder de computação de chips inteligentes de terminal, computação em nuvem e data centers. O que também beneficiará a indústria de equipamentos de tecnologia da informação e comunicação no futuro.

'Terra à deriva II': o blockbuster chinês que cativou a audiência

CGTN

Mais de 50 dias depois de lançado, o blockbuster de ficção científica chinês 'Terra à deriva II' ("The Wandering Earth II") estourou nas bilheterias do país asiático, despertou  discussões acaloradas entre internautas e chamou atenção para as tecnologias e histórias por trás do filme.

Dirigido por Guo Fan e estrelado por Andy Lau e Li Xuejian, com participação da brasileira Daniela Tassy como uma astronauta, o longa é uma continuação de 'Terra à deriva', disponível na Netflix com legenda em português. 

O filme conta a história da humanidade construindo enormes motores para impulsionar a Terra para um novo sistema solar, pois o sol se extingue rapidamente.

Desde seu lançamento em 22 de janeiro, o filme de aventura de ficção científica chinês continua sendo um dos principais tópicos citados na plataforma chinesa Sina Weibo, semelhante ao Twitter, com visualizações de tópicos relacionados chegando a 250 milhões.

Gao Ang, diretor de arte do filme, disse que o longa usou muito mais cenas e adereços do que a primeira parte da franquia. "Esperamos concluir a tarefa de 'representar o mundo futuro' no quadro do 'documentário histórico' por meio de maior densidade de informações", afirmou.

A preparação, filmagem e pós-produção duraram mais de 1.400 dias. Envolveu 5.310 desenhos de design conceitual, mais de 950 mil itens de adereços e figurinos e mais de quatro mil tomadas de efeitos visuais.

Depois de assistir ao filme, alguns espectadores disseram que ficaram impressionados com os elementos que caracterizam a ciência e a tecnologia, incluindo elevadores espaciais e computadores quânticos. No entanto, eles disseram que às vezes confundiam adereços de tecnologia científica com efeitos visuais.

Indústria de ficção científica da China

Em fevereiro, foi lançado o relatório da indústria de ficção científica da China de 2022, produzido em conjunto pelo Centro de Pesquisa de Ficção Científica da China, com sede em Pequim, e pelo Centro de Pesquisa para Ciência e Imaginação Humana da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul, na província de Guangdong, no sul do país.

De acordo com o relatório, em 2021, a receita total da indústria de ficção científica da China foi de 82,96 bilhões de yuans (cerca de 12 bilhões de dólares americanos), um aumento de 50,5% ano a ano, mantendo um crescimento constante.

Por dentro das Duas Sessões

Confira o registro da jornalista Isabela Shi, da Rádio China Internacional, de um dos principais eventos paralelos às Duas Sessões, a entrevista coletiva com o novo chanceler da China, Qin Gang. Ela conversou com vários jornalistas estrangeiros de países de língua portuguesa. Assista:
 

Com informações da Xinhua, CGTN e CRI