Em nova polêmica, Netanyahu deve acompanhar Bolsonaro em visita ao Muro das Lamentações

Gesto pode ser entendido como reconhecimento da soberania de Israel na área, que fica em parte disputada de Jerusalém

Foto: Pedro Moreira
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Por Pedro Moreira, de Jerusalém, especial para a Fórum O Presidente Jair Bolsonaro deve visitar o Muro das Lamentações na companhia do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu na próxima segunda-feira (1º), como parte da visita oficial de quatro dia, informaram, há pouco, integrantes da assessoria de comunicação do Itamaraty e do Planalto. O gesto, se confirmado, pode ser interpretado pela comunidade internacional e, sobretudo, pelos palestinos, como o reconhecimento da soberania israelense naquele local. O ponto mais sagrado para os judeus fica na parte oriental de Jerusalém e, portanto, em um território ocupado ilegalmente por Israel, de acordo com as resoluções da ONU. Por causa de sua localização sensível, raros são os chefes de governo e autoridades de alto escalão estrangeiras que visitam o Muro das Lamentações, sobretudo em visitas oficiais. Quando o fazem, a iniciativa costuma constar de um momento “particular” da agenda, sem o acompanhamento de autoridades israelenses, nem mesmo por diplomatas de alta patente. A Fórum está fazendo uma cobertura exclusiva da viagem do presidente Jair Bolsonaro a Israel e precisa do seu apoio. Clique aqui e saiba como ajudar Caso a visita se concretize, será a primeira vez que um primeiro-ministro de Israel acompanha um chefe de governo estrangeiro no local, desde a anexação de Jerusalém Oriental, em 1967. Nem mesmo o presidente Donald Trump fugiu tanto desse protocolo diplomático, considerado padrão em uma região conflituosa e sensível ao menor dos gestos. Na visita oficial que fez a Israel em maio de 2017, Trump visitou o Muro das Lamentações sem estar acompanhado de autoridades de alto escalão israelenses. Mesmo assim, foi o primeiro presidente americano no exercício do mandato a visitar o local sagrado desde 1967. A partir daquela ocasião, a tradição vem sendo quebrada pouco a pouco, principalmente por autoridades americanas. Em dezembro de 2018, Netanyahu acompanhou o embaixador dos Estados Unidos em Israel, David Friedman, em uma cerimônia no Kotel, como é chamado o muro pelos judeus, que marcou um ano do reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel por Donald Trump. Foi a primeira vez que o primeiro-ministro esteve no muro com um diplomata de alta patente. Ainda em 2018, o ministro das Relações Exteriores da República Tcheca visitou o muro com o embaixador de Israel em Praga. E o presidente da Ucrânia esteve no local com o embaixador de Israel em Kiev. Em janeiro deste ano, o Conselheiro de Segurança da Casa Branca, John Bolton, esteve no Muro das Lamentações e no sítio arqueológico conhecido como Túneis do Muro, acompanhado pelo homólogo israelense. A Fórum está fazendo uma cobertura exclusiva da viagem do presidente Jair Bolsonaro a Israel e precisa do seu apoio. Clique aqui e saiba como ajudar Os assessores do governo brasileiro se reuniram hoje com os jornalistas credenciados para cobrir a visita oficial. E disseram que, ao que tudo indica, Netanyahu vai acompanhar Bolsonaro no Muro das Lamentações. O primeiro ministro israelense deve acompanhar o presidente brasileiro também ao local chamado de Túneis do Muro. Uma escavação arqueológica cuja entrada fica ao lado daquele, mas que se estende pelo subsolo do quarteirão muçulmano da Cidade Velha. Caso essa etapa da agenda se concretize, como parte da visita oficial a Israel, poderia gerar ainda mais reação da comunidade árabe. Perguntados pela reportagem da Fórum se havia ocorrido alguma tratativa com autoridades palestinas ou de países árabes para que o Presidente visitasse o Muro das Lamentações e, também, a Igreja do Santo Sepulcro (que também fica em Jerusalém Oriental), os assessores disseram que não. O Muro das Lamentações, segundo a tradição judaica, é o que restou do muro de arrimo que se situava aos pés do platô sobre o qual estava o Segundo Templo, construído pelo Rei Herodes e que foi destruído pelos romanos no ano 70 d.C. A destruição do Segundo Templo marcou a expulsão do povo judeu e o início da diáspora de dois mil anos. Desde que capturou Jerusalém Oriental, na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel tem controle absoluto dessa porção da cidade. Mesmo os locais sagrados de outras religiões, como a Igreja do Santo Sepulcro, dos cristãos, e a Esplanada das Mesquitas, dos mulçumanos, que, em tese, têm a administração compartilhada, estão sujeitos ao controle de acesso das autoridades de segurança de Israel. Não são raros os episódios de agitação causados por desentendimentos entre a Polícia israelense e praticantes do Islamismo, por exemplo, provocados por bloqueios temporários de acesso aos locais de oração.