Espanha: socialistas iniciam novo governo com dilemas profundos

Pedro Sánchez terá dificuldades para lidar com votações importantes no parlamento - com apenas 84 deputados, 22,6% da Câmara. O risco de ficar refém à esquerda ou à direita, pode custar muito caro para os socialistas nas próximas eleições.

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Desde a década de 80, os espanhóis se acostumaram com um bipartidarismo hegemônico entre o Partido Popular (PP), de direita, e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de centro-esquerda, que duraria mais de 30 anos. Com a crise financeira (2007-2012), sucessivos casos de corrupção e o crescente descontentamento da população com o aumento da pobreza, esse perfil partidário começou a mudar de vez. As votações expressivas, do Podemos, à esquerda, e do Cidadãos (C’s), à direita, no plano nacional, marcaria o início de um multipartidarismo hegemônico inédito no país. Eleições 2016: reeleição de Rajoy É neste quadro de superação relativa dos dois partidos tradicionais, que em junho de 2016, ocorreram as últimas eleições gerais parlamentares, para constituir governos e maiorias. O resultado da eleição para o parlamento nacional foi uma vitória do PP (33%), seguido do PSOE (22,6%), ambos em queda proporcional - se compararmos as eleições anteriores, tendo um claro crescimento da aliança liderada pelo Podemos (21,2%) e o C’s (13,1%). Apesar dos mais de 10% de dianteira do PP para o PSOE, a aliança entre PP e C’s iniciava o segundo mandato de Rajoy, com uma maioria apertadíssima, agravada pela impopular e elitista política de austeridade, bem como casos frequentes de corrupção e a problemática separatista catalã, que ganhou os olhares de todo o mundo. Desse modo, Rajoy não chegaria ao fim de seu período, com dois anos, com seu partido e políticos próximos profundamente envolvidos em denúncias. Rajoy acabou sofrendo um impedimento, com a aprovação de uma moção de censura, na noite de 1° de junho último, que colocou fim ao seu segundo mandato. Com a impossibilidade de seguir governando, Rajoy e sua aliança foram forçados a abdicar e ver a assunção do jovem economista Pedro Sánchez (PSOE) ao posto de primeiro-ministro. Entretanto, a formação do novo governo socialista chega com profundos dilemas. Se por um lado, a direita (PP e C’s) quer adiantar as eleições e reclama a maioria conquistada no voto em 2016, certa timidez e desconfiança popular devido aos escândalos são inevitáveis, os neutralizando ainda que momentaneamente. Por outro lado, à esquerda, a frente liderada pelo Podemos é um outro dilema, que apesar do apoio à moção de censura contra Rajoy, é visto como uma força crescente e concorrente direta do seu público eleitoral. Mais do que isso, é um partido que tem posturas diferenciadas sobre socialismo democrático, participação partidária, horizontalidade, entre outros temas polêmicos, como uma maior autonomia regional, para galegos, catalães, bascos, fator visto por muitos como o caminho para dividir o país no futuro. Tais fatos ajudaram o PSOE de Sánchez a rejeitar a aliança com o Podemos. Elemento que os coloca em uma situação de vulnerabilidade, sem um apoio mais explícito, seja para questões de interesse dos trabalhadores, como a revogação da última reforma laboral – feita por Rajoy, seja sobre as medidas de austeridade, de interesse do mercado financeiro. Com essa decisão, Pedro Sánchez terá dificuldades para lidar com votações importantes no parlamento - com apenas 84 deputados, 22,6% da Câmara. O risco de ficar refém à esquerda ou à direita, pode custar muito caro para os socialistas nas próximas eleições. Caso Pedro Sánchez não consiga apoio de nenhum dos lados, a dissolução do parlamento e antecipação do voto é provável. As últimas pesquisas eleitorais indicam que os partidos estão variando de forma contraditória da seguinte maneira: C’s (29,6-24%); PSOE (23,6-19%); Podemos (15,8-20,9%); e PP (16,8-25,6%). Em resumo, uma situação de total imprevisibilidade.

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