Funerárias e produtores de abacaxis sofrem com a falta de jornal velho

Jornais velhos são usados para proteger abacaxis do sol e acomodar defuntos no caixão

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Diziam que jornal do dia seguinte servia só pra embrulhar peixe. Com o tempo, a prática foi proibida pela saúde pública e nem pra isso se usava mais. Há, no entanto, quem sinta falta deles ainda, mesmo em tempos de internet. Além de agasalhar o gato e resguardar as suas fezes, pasmem, o papel velho serve também para proteger abacaxis. Não os que normalmente vêm impressos, mas aqueles frutos azedos mesmo. O produtor e engenheiro agrônomo Ricardo Domingues, 62, de Santa Isabel do Ivaí (PR), conforme matéria de Lucas Gabriel Martins para o UOL, que o diga. Ele e outros 79 agricultores do município paranaense, integrantes da Aproanp (Associação dos Produtores de Abacaxi do Noroeste do Paraná), utilizam (ou utilizavam) os diários antigos para proteger os frutos do sol. "Mas hoje está difícil de consegui-los por aqui", disse Domingues. Os diários que sobram nas bancas servem também, e nunca imaginávamos um destino final tão estreitamente ligado ao jornalismo, para – pasmem mais ainda – acomodar e estabilizar os nossos restos no caixão. A matéria do UOL dá conta que, tanto produtores de abacaxis quanto donos de funerárias do noroeste do Paraná costumavam comprar, a R$ 1,60 o quilo do jornal, o suficiente para enrolar 210 abacaxis e acomodar, sabe-se lá, quantos defuntos. Um destino final fulminante para os principais jornais da região, como "Diário de Maringá", "Diário do Noroeste", "Ilustrado" e "Folha de Londrina". Tanto no noroeste do Paraná quanto no resto do mundo, o jornal impresso tende a acabar. O "Ilustrado", principal jornal de Umuarama (PR), em 2014 imprimia 14 mil jornais por dia --36% a mais do que atualmente. Já a impressão do Diário de Maringá é de apenas 10 mil exemplares por dia, ante 18 mil em 2014. A consequência fatal, sem trocadilhos, é que os impressos foram minguando. Só na funerária Prever, localizada em Loanda (PR), município vizinho a Santa Isabel do Ivaí, por exemplo, de acordo com o gerente Fernando Alves Moreira, são usados cerca de cem quilos do papel. "Mas, por causa dessa crise no jornalismo, também não estamos encontrando o jornal. A solução tem sido comprar pó de serra, que chega a sair por R$ 5 o quilo, 68% mais caro que o impresso", afirmou. Comprar jornais velhos em São Paulo A alternativa de Domingues e outros produtores foi acomodar os abacaxis e os defuntos com a Folha e o Estadão. O problema é que o quilo do papel em São Paulo custa R$ 2,20 (30% mais caro que o do Paraná) já com o frete. "E isso a gente não consegue repassar para o consumidor final, pois quem manda no abacaxi é a oferta e a demanda", afirmou João Henrique Rodrigues, filho do engenheiro Ricardo e também produtor de abacaxis. A tela de sombrite Uma alternativa apontada pelo professor de fruticultura da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Denis Fernando Bife, seria a tela sombrite, normalmente utilizada na proteção de hortas. "Sairia mais caro no primeiro ano, mas poderia ser reaproveitada pelo menos nos oito anos seguintes. Bastaria ter zelo na hora de retirá-la", afirmou. Fizemos as contas. Para colocar sombrite em um hectare, os produtores precisariam gastar R$ 10 mil, sem contar a mão de obra. Como há 180 hectares em Santa Isabel do Ivaí, o custo seria de R$ 1,8 milhão. Há, portanto, quem ainda torça por uma sobrevida mais longa dos velhos jornalões.