Indecisão marca eleição na Grã-Bretanha

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Problemas econômicos, BREXIT e terrorismo dão o tom da campanha. Com resultados contraditórios, líder da esquerda trabalhista pode surpreender... Por Vinicius Sartorato*, colaborador da Rede Fórum Com 65 milhões de habitantes, o Reino Unido da Grã-Bretanha é uma das maiores potências do mundo. Atualmente, tem atraído os olhares do mundo pelo BREXIT, atentados terroristas e a eleição, a ser realizada no próximo nesta quinta-feira (8). Para muitos, esse pleito é o mais importante desde 1945, principalmente por seus reflexos e as diferenças entre os projetos conservador e trabalhista. Com governos que fizeram jus aos desejos de suas elites econômicas e políticas nos últimos 20 anos, a política britânica foi contagiada pelo crescimento da desigualdade, pobreza, violência urbana, descontentamento e desestruturação do seu Estado de Bem-Estar Social. A soma desses fatores conduziu o país ao referendo pela saída da UE. Esse marco histórico deixou transparecer ao mundo as divisões internas dos partidos tradicionais e do país. Theresa May, a atual 1ª Ministra, e Jeremy Corbyn, líder trabalhista, ambos com trajetórias diferentes, são os líderes que representam essas contradições hoje. Militante pró-BREXIT de ocasião, May, confiante após vitória no referendo e considerando o momento de baixa popularidade da oposição, antecipou as eleições gerais, desejando ampliar seus apoiadores no parlamento. Favorita absoluta para vencer a eleição naquele momento (abril 2017), passou a ver suas chances de vitória reduzirem drasticamente por uma conjunção de fatores negativos. Os crescentes problemas econômicos gerados pelas políticas de austeridade de seu partido, as controvérsias relacionadas com o processo de saída do bloco europeu, somados aos atentados terroristas que atingiram o país, abalaram duramente a imagem da 1ª Ministra. As diferenças entre os dois projetos partidários foram então exploradas, recaindo principalmente sobre as seguintes questões: qual é o papel do Estado na economia; como fazer o país voltar a se desenvolver; como resolver a questão do BREXIT e como combater o terrorismo. Por esse caminho, àquele que parecia ser o mais fraco líder trabalhista, com uma linha à esquerda, passou a ver suas projeções de voto crescerem. Crítico dos próprios governos trabalhistas, Corbyn defende a retomada do papel do Estado na economia, um BREXIT moderado, resguardando o direito de cidadãos europeus no país, assim como um combate ao terrorismo questionando a islamofobia e a linha militar-intervencionista da política externa britânica. May, por sua vez, defende o oposto: a austeridade econômica a qualquer custo; um BREXIT mais agressivo e um combate ao terrorismo focado em um maior controle das fronteiras, da internet e do trânsito de pessoas. Em síntese, desde o início de junho, as diversas pesquisas demonstram resultados contraditórios. Aparentemente, os conservadores lideram o pleito, mas variando profundamente, de um empate até 12% de vantagem. Entretanto, as únicas afirmações acertadas seriam sobre a trajetória decrescente dos conservadores e a crescente dos trabalhistas. Neste sentido, May continua sendo a favorita, mas Corbyn pode surpreender. A preocupação geral dá-se sobre a participação da população na eleição, dado que o voto é facultativo. *Vinicius Sartorato é sociólogo, mestre em Políticas de Trabalho e Globalização (Universidade de Kassel, Alemanha)