Israel: Começa o julgamento de Benjamin Netanyahu por corrupção

Em sua chegada ao julgamento, Netanyahu se referiu ao processo como “uma tentativa de frustrar a vontade do povo, uma tentativa de me derrubar"

Netanyahu e Bolsonaro (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
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Primeiro premiê em serviço a ser julgado por crimes, o julgamento de Benjamin Netanyahu começou nesse domingo (24). Declarando-se vítima de um golpe político, Bibi - como é conhecido por seus apoiadores, disse ao chegar na corte do distrito de Jeruslarem: “Estou aqui de costas eretas e cabeça erguida”.

Indiciado em novembro de 2019 pelo procurador-geral da república, Avichai Mandelblit, por três casos de corrupção, dentre os quais é acusado de fraude, propina e quebra de confiança na relação com empresários, uma empresa de telecomunicações e meios de comunicações.

Netanyahu não renunciará ao cargo que ocupa, mas isso gerou muitas críticas, com argumentos que vão da vergonha a contaminação de assuntos governamentais. Mais do que isso, muitos denunciam a campanha feita para deslegitimar o sistema judicial.

Em sua chegada ao julgamento, Bibi se referiu ao processo como “uma tentativa de frustrar a vontade do povo, uma tentativa de me derrubar.”. No passado, quando investigados, os premiês Yitzhak Rabin e Ehud Olmert renunciaram ao cargo que ocupavam. Olmert por sua vez, foi julgado, condenado e preso. Fato histórico, que mais teme hoje Netanyahu.

Diferente da narrativa da mídia tradicional, as complicações judiciais e o resultado das últimas três eleições mostram a decadência do “líder insubstituível”. Ainda popular, a divisão do público entre a razão e a popularidade do primeiro-ministro é notória, eleito pela primeira vez há 23 anos, ele está há uma década inteira no poder. O julgamento é previsto a durar um ano ou mais; analistas, jornalistas, sociólogos e politólogos israelenses dizem que esses são os últimos dias da Era Netanyahu.

Como fica a política israelense?

Enquanto o julgamento do homem mais poderoso do país significa relativa força do Estado de democrático de direito, a situação política pode voltar a esquentar.

Após três eleições em menos de um ano, o partido Likud (União) - do primeiro-ministro Netanyahu, acabou se consolidando como a primeira força do parlamento porém sem uma maioria, o que forçou um acordo inédito e controverso com aliança partidária que ficou em segundo lugar na eleição de março de 2020.

Tal acordo determinou a “rotatividade” no cargo de primeiro-ministro e o poder veto para o premiê alternativo sobre indicação de ministros, assim o líder da aliança “Azul e Branca”, Benny Gantz - que até então rejeitava a formação de um governo com um premiê indiciado criminalmente, deve assumir a cabeça do governo em novembro de 2021.

A aliança governamental recém-formada, entre o Likud (Direita) e o Kahol Lavan (Centro), parece reunir setores inconciliáveis e traz dúvidas diante da possível condenação de Bibi, já que reúne desde ortodoxos até social-democratas e trabalhistas dissidentes do Meretz (social-democracia) e o histórico Partido Trabalhista.

Muito além do impasse político-eleitoral, as questões mais importantes da política israelense continuam sendo evidentes, como a questão palestina e a relação regional com o Líbano, Síria e o Irã.

Netanyahu tradicionalmente visto pelo ocidente como um líder “moderno”, se aproximou nos últimos anos da extrema-direita e com o apoio de Trump, vem promovendo novos assentamentos judaicos em regiões povoadas por palestinos, bem como vem diminuindo a influência da Autoridade Palestina, fatos que enfraquecem a perspectiva da saída – diplomática-pacífica - de “Dois Estados” para resolução do conflito.