Não houve derrota dos EUA no Afeganistão, diz Reginaldo Nasser

Segundo professor de Relações Internacionais, a retirada das tropas dos Estados Unidos vem ocorrendo há muito tempo. “Hoje são 2,5 mil militares, já chegaram a ter 180 mil”

Talibãs no Palácio. Foto: Al Jazeera
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O professor de Relações Internacionais da PUC de São Paulo Reginaldo Nasser explicou em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia, nesta segunda-feira (16), por que não houve derrota dos Estados Unidos no Afeganistão.

“Já estava claro que os talibãs iriam tomar o governo a partir do momento em que os EUA começaram as negociações com o Talibã, com Obama e se profundou com Trump, excluindo o governo do Afeganistão. De lá pra cá, isso se intensificou até Biden dizer que iria retirar as tropas sem nenhuma pré-condição.”

Para Nasser, não se esperava essa rapidez do Talibã em tomar o poder no Afeganistão. O grupo extremista chegou à capital, Cabul, neste domingo (15), pouco tempo depois de o presidente Ashraf Ghani abandonar o país, junto com auxiliares.  

“Eu gostaria de comemorar a derrota dos EUA, mas não é isso. O que foi derrotado foi um projeto americano que era de ter um governo fantoche, alimentado pelos EUA, e que não precisasse deles. Isso faliu. Mas o que mais atingiu os EUA? Mais nada”, explica Nasser.

De acordo com ele, os EUA se retiraram e o que é lamentável é não estarmos discutindo o motivo pelo qual os EUA foram lá no Afeganistão. “O motivo era combater o terror e o Talibã nunca teve nada a ver com terror. Nesses 20 anos cresceram a máquina militar americana e o sistema de vigilância no mundo, vários países adotaram método americano de combater o terror”.

Em relação aos recursos gastos na guerra, Nasser argumenta que alguém ganhou com isso. “Gastaram 2 trilhões de dólares? Alguém ganhou, dentro do Afeganistão tem bairros que parecem o Jardins em São Paulo, e empresários americanos ganharam muito dinheiro. A guerra dá dinheiro, 20 anos é muita coisa, de repente eles olharam e falaram vamos embora, tchau.”

Sobre os talibãs, Nasser afirma que o grupo é extremamente organizado, mas não tem atuação internacional e nem quer ter. “Talibã não vai atacar ninguém. Não tem a ver com ataques terroristas, quem tinha era a Al Qaeda.”

Assista:

https://www.youtube.com/watch?v=0fdR-mHbK5k