Sérgio Dávila, diretor de redação da Folha, atacou a carta protesto assinada por 192 profissionais do jornal - e outros 16 de forma anônima - que acusa a publicação de usar um texto racista do antropólogo baiano Antônio Risério e propagar teses de defensores de um inexistente "racismo reverso" para gerar audiência.
“Para além de reafirmarmos a obviedade de que racismo reverso não existe, não pretendemos aqui rebater o que afirma o autor —pessoas mais qualificadas do que nós no tema já o fizeram, dentro e fora do jornal. No entanto, manifestamos nosso descontentamento com o padrão que vem se repetindo nos últimos meses”, diz o texto dos jornalistas.
Os jornalistas chamam ainda a atenção que “antes do artigo em questão, colunas de Leandro Narloch e Demétrio Magnoli cumpriram esse papel”.
Na resposta, Dávila diz que "o abaixo-assinado erra" e acusa os jornalistas de serem parciais e fazerem "acusações sem fundamento".
"O abaixo-assinado erra, é parcial e faz acusações sem fundamento, três características indesejáveis em se tratando de profissionais do jornalismo", diz o executivo do jornal da família Frias.
O diretor de redação diz que os jornalistas erram por "sugerir que a Folha publicou artigos que relativizam ou fazem apologia do racismo, o que não aconteceu, até porque racismo é crime".
Dávila ainda usa a velha estratégia de dizer que a Folha contratou "profissionais negros no elenco de colunistas, blogueiros e repórteres" e até criou a "editoria de Diversidade, a primeira do gênero na grande imprensa" para negar a parcialidade do jornal.
O diretor de redação ainda usa o subterfúgio de sempre do jornal ao citar "a pluralidade e a defesa intransigente da liberdade de expressão" para defender a publicação de textos racistas.
Marcos Augusto Gonçalves, editor da Ilustríssima, que aprovou a publicação do artigo alegou que considerou "que o texto submetido a mim por Antonio Risério, por criticável que pudesse ser, se inscrevia nos limites do debate público, algo que infelizmente vem se estreitando nos últimos tempos, e não só no Brasil".
Gonçalves ainda fala da prisão de Risério na Ditadura e do trabalho com o ministro da Cultura Gilberto Gil, no governo de Lula, mas resume a guinada ultraconservadora do antropólogo dizendo que ele passou a "divergir posteriormente com o PT", sem mencionar a relação dele com João Santana e tampouco o livro em que homenageia Antonio Carlos Magalhães.
"Obviamente eu presumia que o texto provocaria reações, mas imaginava que viriam argumentos –o que seria uma contribuição para o debate. Infelizmente, não houve debate algum, mas um tsunami nas redes sociais para tentar silenciar e punir, como de hábito, o divergente. No caso, prevaleceu a acusação tida como verdade absoluta de que se tratou de uma manifestação ‘racista da Folha’. Respeito a posição do grupo expressivo de jornalistas que assinou a carta aberta, embora eu tenha sérias divergências conceituais sobre como e o que foi colocado", disse o editor da Ilustríssima sobre os colegas.