5 razões pelas quais os EUA são culpados pela existência do Estado Islâmico

Políticas contraditórias dos EUA, assim como fizeram com a al-Qaeda, ajudaram no desenvolvimento do Estado Islâmico.

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Políticas contraditórias dos EUA, assim como fizeram com a al-Qaeda, ajudaram no desenvolvimento do Estado Islâmico Por Russe Wellen, em Foreing Policy in Focus | Tradução: Vinicius Gomes Em realizar o sonho de todo terrorista – se transformar em um Estado com um exército – o Isis, agora chamado Estado Islâmico, se tornou motivo de pesadelos para muitos no Oriente Médio e no Ocidente. Eu quase escrevi que era o “pior pesadelo”, mas aguardemos até que eles obtenham armas nucleares. De qualquer maneira, o Estado Islâmico também é um produto “made in USA”. Aqui, algumas razões para tal: 1) A situação de caos generalizado no qual os EUA deixaram o Iraque, tanto que até hoje não possui um governo central. 2) “Os EUA garantiram que o Isis consiga reforçar seus combatentes do Iraque com combatentes na Síria, e vice-versa”, escreveu Patrick Cockburn. “A realidade da política dos EUA é apoiar o governo do Iraque, mas não o da Síria, contra o Isis. Porém, uma razão para que o grupo fosse capaz de ficar tão forte no Iraque é que ele pode contar com recursos e combatentes vindos da Síria [...] Até o momento, Washington conseguiu escapar de levar a culpa pela ascensão do Isis, jogando-a toda no governo iraquiano, mas na realidade, foram eles próprios que criaram a situação na qual o Isis pode não só sobreviver, mas como também crescer. 3) Washington foi um fator que permitiu que armamento avançado caísse nas mãos do Estado Islâmico e, citando Cockburn novamente: “Grupos jihadistas ideologicamente próximos à al-Qaeda foram re-rotulados como “moderados”, desde que suas ações mostrassem alinhamento com os objetivos da política dos EUA. Na Síria [...] a poderosa, mas supostamente moderada, Brigada Yarmouk, seria a principal recipiente dos mísseis anti-aéreos fornecidos pela Arábia Saudita, mas inúmeros vídeos mostraram a Brigada lutando colaborativamente com o Jabhat al-Nusra, a franquia official da al-Qaeda na Síria, e uma “organização terrorista”, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA. Uma vez que era provável que, no calor das batalhas, esses dois grupos compartilhassem munição, Washington estava efetivamente permitindo que armamento avançado fosse entregue para seu mais mortal inimigo. Oficiais iraquianos confirmaram que eles capturaram armas sofisticadas de combatentes do Isis, fornecidas originalmente para forças consideradas anti-al-Qaeda na Síria. 4) Washington nunca fez um esforço real para acabar com o fluxo de dinheiro saindo da Arábia Saudita para grupos islâmicos extremistas (principalmente a Al Qaeda). As decisões cruciais que permitiram à al-Qaeda sobreviver, e posteriormente se expandir, aconteceram horas depois do ataque em 11 de Setembro. Praticamente todos os elementos significativos no projeto para atingir as Torres Gêmeas com aviões [...] Citando um relatório da CIA de 2002, o documento oficial sobre o 11 de Setembro dizia que a al-Qaeda tinha seu financiamento vindo de “uma variedade de doadores e arrecadadores de fundos, principalmente nos país do Golfo [Pérsico] e, particularmente, da Arábia Saudita” e que os grupos apoiados pela Arábia Saudita têm um histórico de extremo sectarismo contra muçulmanos não-sunitas. 5) Após invadir o Iraque, os EUA desmantelaram o exército iraquiano. Alguns de seus líderes hoje ocupam posições de alto escalão nas forças armadas do Estado Islâmico. Em outras palavras, o Oriente Médio ainda está sofrendo os efeitos dessa decisão ordenando o desmantelamento do exército iraquiano de Saddam Hussein. O New York Times escreveu que o chefe do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, “escolheu a dedo muitos de seus interinos, entre os homens que ele conheceu quando foi prisioneiro dos norte-americanos no centro de detenção em Camp Bucca, uma década atrás [...] Ele tinha uma preferência por militares, assim sendo, seu círculo de líderes incluiu muitos dos oficiais de Saddam Hussein que foram debandados pelos EUA [...] O histórico dessas lideranças ajudam a explicar o sucesso nos campos de batalha: seus líderes refinaram habilidades militares tradicionais com técnicas terroristas ao longo dos anos em que combateram as tropas norte-americanas, enquanto também possuem contatos e um profundo conhecimento local”. Foto de Capa: Arquivo The Express Tribune