América Latina: Mudança no andar dos investimentos

Crescimento do investimento estrangeiro direto nos últimos dois anos foi de 18%, segundo a Cepal. México e Brasil foram os que mais receberam recursos

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Crescimento do investimento estrangeiro direto nos últimos dois anos foi de 18%, segundo a Cepal. México e Brasil foram os que mais receberam recursos

Por Daniela Estrada, da IPS 

Os países latino-americanos caminham pouco a pouco em definições de políticas de desenvolvimento como forma de atrair mais capitais estrangeiros reais com destino produtivo, concluiu um informe divulgado na quinta-feira na capital chilena pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. “Na América Latina se vê uma tendência em definir estratégias nacionais e a partir delas elaborar uma política para atrair investimento estrangeiro direto (IED) de qualidade”, disse à IPS José Luis Machinea, secretário-executivo da Cepal, em uma intervenção na apresentação de um informe sobre o assunto.

“É algo que não víamos na região. É um fenômeno dos últimos três ou quatro anos e me parece que isso deve ser destacado”, acrescentou Machinea, para, em seguida ressaltar o trabalho realizado nessa direção pela Costa Rica. “O Chile começa a caminhar nesse sentido”, graças ao Conselho Nacional de Inovação para a Competitividade, criado no ano passado pela presidente Michelle Bachelet, que definiu oito pólos de desenvolvimento, entre os quais ressalta a subcontratação de serviços, destacou o economista argentino.

Machinea também disse que Colômbia e Uruguai são outros países que avançam na identificação de setores prioritários, dando ênfase na indústria do software, enquanto Argentina e Paraguai aparecem atrasados nessa área. “O Brasil tem uma política ativa de atração de IED”, mas, não como parte de uma diretriz nacional, destacou o diretor da Cepal, uma agência da Organização das Nações Unidas.

O Informe sobre Investimento Estrangeiro na região em 2006 da Cepal afirma que o fluxo total de IED para a América Latina (excluídos os principais centros financeiros) cresceu 1,5% em relação a 2005, ficando em US$ 72,44 bilhões, enquanto em 2004 chegava a US$ 66 bilhões. Está alta se explica pelo bom desempenho econômico e os altos preços dos produtos básicos, procurados principalmente pela China. Mas, a Cepal se mostrou preocupada porque no ano passado a América Latina captou apenas 8% da IED mundial, o segundo valor mais reduzido dos últimos 15 anos, ficando mais abaixo do que outros países em desenvolvimento.

Esta situação se explica pelo menor interesse demonstrado pelas multinacionais em investir na região e pela dificuldade que têm os países latino-americanos e caribenhos para competir eficientemente por certo tipo de investimento. “Um dos motivos de maior preocupação neste campo é a intensificação dos conflitos relacionados com a exploração de recursos naturais, que poderiam limitar a IDE”, diz o informe de 286 paginas.

Isso se deve “aos novos contratos de exploração de petróleo e gás natural que reduzem o controle dos investidores estrangeiros sobre suas operações, à alta das taxas ou dos impostos aplicados às concessões para exploração de hidrocarburos e recursos minerais, ou a fatores sociais e ambientais”, acrescenta. Consultado sobre o impacto que terá na IED a política de nacionalizações seguida por países como Venezuela e Bolívia, Machinea entende que até agora tem um impacto focado e que “não gerou um contexto de incerteza generalizada na região”.

Em 2006, os principais receptores de IED na América Latina foram México com US$ 18,939 bilhões, e Brasil com US$ 18,782 bilhões, mas nos dois casos esses números apenas representam uma proporção próxima dos 2,5% de seus respectivos produto interno bruto. O país que aparece em seguida em volume de IED é o Chile com US$ 8,053 bilhões, que representa 6,9% de seu PIB. Na América Central e no Caribe, destacou-se o Panamá com US$ 2,560 bilhões, Costa rica com US$ 1,4 bilhão, e República Dominicana com US$ 1,180 bilhão. O Panamá é o país onde a IED representa a mais alta porcentagem em relação ao PIB, com 16,4%, seguido de Trinidade y Tobago com 8,4%; Uruguai com 8,3%, e Costa Rica com 7%.

Um aspecto positivo identificado pela Cepal é “o notável aumento dos investimentos diretos no exterior feitos pelos países da América Latina e do Caribe, uma demonstração de que as empresas da região estão se internacionalizando a um ritmo mais rápido do que no passado”. Os investimentos diretos no exterior dos países da região registraram alta de 115% em 2006, em relação ao ano anterior, chegando a US$ 40,62 bilhões.

“As empresas translatinas, isto é, as multinacionais da região, são a maior fonte deste tipo de investimento”, acrescenta o documento, destacando que “a região está se adaptando ao processo de globalização, por meio de uma participação mais ativa nele”, diz o texto. O informe também afirma que uma diversificação maior na origem da IED e a redução dos capitais procedentes de um dos principais investidores de anos recentes: a Espanha.

(Envolverde/ IPS)