América Latina: Igreja Católica renova opção pelos pobres

A Igreja Católica pretende trabalhar nos próximos quatro anos em projetos concretos para ajudar a superar a superar a pobreza na América Latina, onde as disparidades de renda são as maiores do planeta.

Escrito en GLOBAL el
Por Patrícia Grogg, da IPS A Igreja Católica pretende trabalhar nos próximos quatro anos em projetos concretos para ajudar a superar a superar a pobreza na América Latina, onde as disparidades de renda são as maiores do planeta. “A opção pelos pobres é um dos desafios que temos na região”, disse à IPS dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo da cidade de Aparecida e novo presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam). “Cabe, sobretudo, aos laicos cristão unirem-se para superar as estruturas de injustiça em nossos países, para que possamos ter condições de vida melhores para todos”, acrescentou o dom Damasceno ao fim da primeira Assembléia Geral do Celam, realizada em Cuba. Os últimos dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) indicam que nesta região permanecem em situação de pobreza 205 milhões de pessoas, enquanto os indigentes somam 79 milhões. Coincidindo com esta assembléia, que reuniu em Havana cerca de 50 bispos de toda a área, o papa Bento 16 autorizou a divulgação do documento de Aparecida, na qual os prelados exortam cada igreja local a fortalecerem as Pastorais Sociais para que se façam presentes “nas novas realidades de exclusão e marginalização em que vivem os grupos mais vulneráveis”. Para os bispos, a globalização em curso fez emergirem “novos rostos de pobres” e excluídos, entre os quais são mencionados os imigrantes, as vítimas da violência, do tráfico de pessoas e de seqüestros; refugiados; desaparecidos; afetados pelo HIV/aids; pessoas que vivem na rua nas grandes cidades; mineiros e camponeses sem terra. “A Igreja com sua Pastoral Social deve dar acolhida e acompanhar essas pessoas excluídas nos âmbitos correspondentes”, afirmou em aparecida a hierarquia eclesiástica latino-americana, que diante de uma globalização que privilegia o lucro e promove iniqüidades e injustiças propõe outra, marcada pela justiça, solidariedade e pelo respeito aos direitos humanos. O texto de 136 páginas dívidas em três partes e 10 capítulos repassa a realidade regional e expressa especial preocupação por problemas com o vício da droga e o narcotráfico, a violência que golpeia principalmente os setores mais pobres, elevando os índices de criminalidade, bem como pela dupla marginalização de mulheres de escassos recursos, indígenas e afro-descendentes. Dom Damasceno disse que no encontro de Havana foram feitas recomendações e encargos à direção do Celam, que voltarão a se reunir em agosto em Bogotá, para elaboração de projetos concretos dentro da estratégia traçada em Aparecida para os próximos quatro anos. Também anunciou que a 32ª Assembléia Ordinária do Celam acontecerá em 2009 em Manágua. Qualificado de histórico o encontro, finalizado sexta-feira, já que pela primeira vez aconteceu em território cubano, nesta reunião os bispos elegeram sua nova direção. Também se encontraram com autoridades cubanas, lideradas pelos vice-presidentes Carlos Lage e Esteban Lazo, aos quais pediram facilidades para maior assistência religiosa e milhares de jovens latino-americanos que estudam em Cuba. “Nos disseram que o diálogo prosseguirá, que estão abertos a apoiar nosso pedido”, disse o bispo de Aparecida. Criada em 199, somente a Escola Latino-americana de Medicina (Elam) recebe anualmente 1.500 estudantes de 24 países (19 da região) com bolsas do governo cubano. A matricula total é de 10 mil a 12 mil alunos. Fontes oficiais informaram que neste contato houve coincidência “quanto à necessidade de a formação de profissionais latino-americanos em Cuba continuar potencializando a criação de valores humanos e a conservação de suas crenças, tradições e costumes, para que possam voltar às suas comunidades de origem e servir aos mais necessitados”. Um dos princípios da Elam é formar profissionais “com uma elevada preparação científica, humanista, ética e solidária, capazes de atuar em seu entorno para atender as necessidades da região e contribuir para o desenvolvimento humano sustentável”. Por outro lado, os bispos latino-americanos se pronunciaram diretamente sobre, pelo menos, três cartas recebidas de setores da oposição interna cubana pedindo uma mediação em favor de presos e outros casos humanitários e decidiram passar os temas à Igreja Católica local. “A presidência do Celam colocou estas situações nas mãos da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba, a quem cabe um diálogo com as autoridades nacionais sobre os assuntos tratados nas cartas”, diz uma nova entregue aos jornalistas ao fim de uma entrevista coletiva. As relações entre Igreja Católica e Havana, que tiveram momentos tensos no passado, começaram a melhorar a partir dos preparativos para a visita, em janeiro de 1998, do papa João Paulo II, que morreu em 2005. Fontes da cúria cubana asseguraram à IPS que o diálogo aberto nessa oportunidade se mantém até hoje, embora não se esteja em uma situação ideal em que toso os problemas estejam resolvidos. “Há passos a serem dados, mas, não se pode dizer que as relações sejam más. A comunicação com a atual diretora do Escritório para Assuntos Religiosos, CAridad Diego, é fluida e os problemas são resolvidos assim, em nível de comunicação amistosa’, disse dom Carlos Manuel de Céspedes, vigário-geral de Havana, em entrevista à Enfoques, publicação da correspondente da IPS em Havana. A nova direção do Celam inclui como primeiro vice-presidente Baltyazar Porras Cardozo, arcebispo da cidade venezuelana de Méridca; o segundo vice-presidente, Andrés Stanovnik, bispo da localidade argentina de Reconquista, e Emilio Aranguren Echeverría, bispo da cidade cubana de Holguín, à frente do Comitê Econômico. Como secretário-geral da entidade foi eleito Victor Sánchez Espinosa, bispo auxiliar do México. O Celam foi criado em 1955, tem sede administrativa em Bogotá, representa as 22 conferencias episcopais da América Latina e do Caribe e renova sua direção a cada quatro anos.