Assembleias e Conselhos Populares, já!

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Antes que seja tarde, é preciso dar vazão ao sentimento da Multidão. Houve a reivindicação unificadora pela revogação do aumento na tarifa do transporte, os protestos, a repressão, o povo que não se intimidou, as bandeiras difusas expressas pelo ativismo autoral, a horizontalidade, o desejo de mudança, a cultura de paz, a auto-organização em manifestações pacíficas...; a raiva incontida, a classe dirigente de costas para o povo, os partidos políticos atônitos, as prioridades duvidosas, os serviços públicos mal prestados, os desvios de recursos...; mais raiva, mais gente nas ruas, agora abrindo espaço para provocadores, aproveitadores e fascistas. E mais raiva! Deixaram que isso acontecesse. Quem está nos governos (todos os governos) não conseguiu perceber a situação, foi arrogante e ignorante ao mesmo tempo. Não deram ouvidos e continuam não escutando. Dos parlamentares, nem se fala. Quanto aos  movimentos sociais, tentam entender o que está acontecendo e se reconectar com o povo e, quem sabe, ainda haja tempo para que o façam. E o povo na rua, com suas bandeiras difusas, sua revolta, sua raiva. O que fazer? Ouvir, escutar, canalizar, resolver. Se rapidamente (o quanto antes, pois os dias no Brasil estão correndo em velocidade de décadas) os que estão nos governos conseguirem interpretar esta insatisfação e atendê-la, ao menos mostrando um horizonte diferente, ótimo. Mas talvez não tenham mais capacidade de fazê-lo; em nome de uma governabilidade oportunista perderam a conexão com o povo e isto é fatal. Alguns tramam por golpe, uma mudança autoritária, seja de carater clássico e fascista ou em novas formas. Esta é uma hipótese real, que pode ser constatada com a ação de provocadores nas manifestações, na manipulação das polícias estaduais, que ora reprimem de forma desmesurada e ora desaparecem, provocando caos e o terror em ambas situações; há também a alteração na embaixada norteamericana no Brasil, fato que não pode passar despercebido, pois a nova embaixadora também estava no Paraguai, quando do golpe contra o presidente Lugo. E há o povo, com seu desejo de mudança, sua festa, suas cores e sua força. Agora cabe escolher com coragem e clareza de que lado estar. Este é um tempo em que não podemos nos omitir e, da mesma forma que defendemos a democracia, temos que defender a mudança. E estar ao lado do povo, não acima nem abaixo, simplesmente ao lado, caminhando junto, por uma solução comum e democrática. Quem não perceber esse momento será tragado pela Multidão, não resta dúvida, e se aqueles que deveriam estar ao lado do povo não conseguirem cumprir o seu papel, outros o farão; que não sejam os fascistas e reacionários, que não seja a manipulação midiática, nem os golpistas de olho no pré-sal e em outras riquezas mil. Em uma situação de quase descontrole é momento de parar e refletir. Mas temos que fazer isso já e junto com o povo, não fora. As manifestações do dia 20 de junho demonstraram que a população segue insatisfeita e que não vai parar de ir às ruas, pois quer muito mais que a redução da tarifa no transporte. Porém, continuar saindo às ruas em revolta difusa só abrirá espaço para manipuladores. Daí a necessidade de um caminho que canalize toda essa energia em um programa mínimo. Como fazer? Ao invés de manifestações e marchas de rua, Assembleias Populares, em locais adequados para o debate com a Multidão, seja em estádios ou praças cívicas. E com método. É preciso restabelecer acordos de convivência entre a Multidão, movimentos sociais organizados e partidos políticos populares. Se cada parte ceder um pouco isso será possível, pois o povo já aprendeu que unido e em paz consegue muito mais que em disputa entre si. E em caso de provocadores, isolá-los. Como método preparatório, devemos lançar mão de exercícios de convivência e paz, realizados no mesmo local, em grupos (certamente poderemos contar com muitos bons voluntários), antecedendo a Assembleia. E ir com espírito aberto, sabendo escutar, orientar e ceder. Se em uma única assembleia não for possível para unificar a pauta, façamos outras, até a construção de consensos mínimos, que permitam a formação de Conselhos Populares, seja por bairros, municípios ou nação. O Rio de Janeiro já deu o primeiro passo e dia 24 de junho será realizada a primeira Assembleia Popular da cidade (na sequência publico o vídeo-convocatória, preparado por Alessandra Stropp), cabe às outras cidades fazer o mesmo (em São Paulo poderia ser no Sambódromo ou no estádio do Pacaembu). E assim, com paciência, clareza e coragem, faremos brotar um Brasil como nunca se viu! E que seja justo, democrático, tolerante e diverso. http://www.youtube.com/watch?v=wC7LpE6ag2g&list=UUxJSsGi-SLlZ9WFAS7krQAg