Bolsonaro terá de responder na ONU por atuação desastrosa na pandemia de coronavírus

“O Brasil poderia ter salvo dezenas de milhares de vidas", disse Baskut Tuncak, relator especial das Nações Unidas, que apresentará avaliação negativa do governo brasileiro no Comitê de Diretos Humanos

Jair Bolsonaro e Ricardo Salles - Foto: Allan Santos/PR
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O relator especial das Organizações das Nações Unidas sobre as Implicações para os Direitos Humanos da Gestão e Disposição Ambientalmente Adequada de Resíduos e Substâncias Tóxicas, Baskut Tuncak, declarou que o governo Jair Bolsonaro não tem o direito de usar a covid-19 como uma cortina de fumaça para ampliar o desmatamento.

"O governo não deve usar a covid-19 como cortina de fumaça para minar ainda mais a proteção do meio ambiente, da saúde pública e dos trabalhadores", disse o relator da ONU, em entrevista exclusiva a Jamil Chade, publicada nesta segunda-feira (25).

A avaliação Tuncak considera a fala do ministro da Meio Ambiente, Ricardo Salles, que sugeriu "passar a boiada" enquanto a imprensa está distraída com o coronavírus. A intenção de enfraquecer regulações para facilitar a exploração do ambiente no Brasil repercutiu no exterior, depois da divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril.

O governo Bolsonaro começou a ser cobrado em fóruns internacionais e o terá de se explicar em uma sessão da ONU, em setembro, quando Tuncak apresentará um relatório diante do Conselho de Direitos Humanos.

Segundo a coluna, o relator esteve no país em dezembro para avaliar a situação e já mantinha, antes mesmo da fala de Salles vir à tona, contato com o Itamaraty para expôr suas preocupações em relação ao Brasil e a resposta do a país à pandemia.

Tuncak decidiu incluir o comportamento recente do governo em sua apresentação e exame, o que deixou o Itamaraty insatisfeito. O mandato do relator termina em julho, mas seu sucessor vai submeter o informe ao debate do Conselho e apresentar as conclusões.

A apresentação em setembro deve aprofundar a imagem negativa do Brasil no exterior e aumentar a pressão sobre o governo de Bolsonaro.

"Dado tudo o que sabíamos em março sobre a covid-19, o Brasil poderia ter salvo dezenas de milhares de vidas", afirmou. Para o relator, "a inação e desinformação da liderança política sobre o coronavírus é uma violação das normas e padrões internacionais de direitos humanos".

Segundo ele, a "contínua rejeição da ciência nos níveis superiores do governo federal tenha uma consequência trágica para dezenas de milhares de vidas que poderiam ter sido salvas". "Relaxar o distanciamento social dado o número atual e os testes limitados pode ser uma sentença de morte para dezenas de milhares de pessoas no Brasil", completou.

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