Braga Netto diz que ministros militares tentaram "acalmar" Moro

Em depoimento à PF, ministro da Casa Civil reforçou versão do presidente, mas contradições apontam para interferência com objetivo de proteger familiares

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O ministro Walter Souza Braga Netto (Casa Civil) disse à Polícia Federal nesta terça-feira (12) que ele e outros ministros militares tentaram "acalmar" o ex-ministro Sérgio Moro quando ele relatou, um dia após a reunião ministerial do dia 22 de abril, a intenção do presidente Jair Bolsonaro de trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.

Na conversa, Moro "sinalizou" sua intenção de deixar o governo. Braga Netto disse que ouviu de Moro que ele não concordava com a troca do diretor-geral e que tinha "uma biografia a manter". Em resposta, o ministro Casa Civil disse "vamos conversar", segundo ele "afirmando a necessidade de manter aberto o canal de comunicação entre todos". No entanto, ele disse no depoimento que não procurou Bolsonaro para falar da troca.

Braga Netto procurou minimizar as declarações que Bolsonaro fez na reunião ministerial do dia 22 de abril e reforçar a linha de defesa apresentada pelo presidente. O ministro disse que, quando Bolsonaro falou em trocar "a segurança no Rio de Janeiro", entendeu que "se tratava da segurança pessoal do presidente, a cargo do Gabinete de Segurança Institucional", não trocar o comando da PF do Rio.

Em declarações à imprensa também nesta terça, praticamente no mesmo horário dos depoimentos dos ministros militares, o presidente apresentou a mesma versão e reforçou que não citou a PF na reunião.

Sergio Moro, porém, diz que foi pressionado diretamente pelo presidente, na reunião. Fontes que assistiram a gravação, citadas pelo jornal Folha de S.Paulo e O Globo, também afirmam que Bolsonaro vincula a proteção da família com a troca na PF do Rio. No depoimento do ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), também ocorrido nesta terça, a Procuradoria-Geral da República indica o mesmo entendimento.

Outra contradição nesta linha de defesa foi apontada pelo Jornal Nacional desta terça, também citando fontes ligadas ao caso. Na reunião, Bolsonaro teria cobrado Moro, então Ministro da Justiça e responsável pela PF. A segurança pessoal do presidente e da sua família fica à cargo do GSI, de Heleno.

O vídeo da reunião e os depoimentos são parte do inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar a acusação de interferência contra Bolsonaro, feita por Moro quando anunciou sua demissão.

A gravação, com mais de duas horas de duração, foi assistida também nesta terça por Sergio Moro, que estava acompanhado de seus advogados. Também estavam presentes policiais federais, procuradores da equipe da Procuradoria-Geral da República e integrantes da Advocacia-Geral da União (AGU), responsáveis pela defesa de Bolsonaro. 

O ministro Celso de Mello, relator do inquérito no STF, ainda vai decidir se torna a gravação pública. Até o momento, o vídeo está sob sigilo.