Feminista negra atacada por nazistas teme por integridade física

Apesar disso, Carol Inácio relatou à Fórum que está recebendo bastante apoio de amigos e familiares e que não vai mudar seus posicionamentos políticos

Foto: reprodução redes sociais/ Instagram
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A feminista negra e influencer Carol Inácio ganhou no último domingo (8) o seu pior presente de aniversário: teve o seu número de celular inserido em um grupo composto por homens que se autodefinem como nazistas e que “odeiam gays e nordestinos”.

Assim que teve o seu número inserido no grupo, os ataques começaram: “Negras fedem a bicho”, “mesma coisa que transar com animal”, “no BBB 2022 poderia ter uma senzala de vidro só para negros”.

Além dos ataques acima, Carol Inácio recebeu outros tão odiosos quanto: “Se chegar uma Nêga Obesa pra você, dizendo que você é privilegia e tem que dar a vez para ela, o que vai fazer?”, perguntou um dos membros do grupo nazista, e teve como resposta: “dou uma paulada na cabeça dela”.

Além do ativismo e do trabalho com as redes, Carol Inácio, que vive em Colatina (ES), cidade dominada pela ideologia bolsonarista e onde o presidente Bolsonaro teve 74% dos votos no segundo turno das eleições em 2018, é estudante de Pedagogia e, em entrevista à Fórum, afirmou que a educação deve ser uma política prioritária para que o Brasil possa “destruir” o fascismo.

Apesar dos ataques que recebeu do grupo de homens nazistas, a ativista afirma que não vai abandonar a sua militância política, mas que, apesar disso, hoje teme por sua integridade física e também possui dúvidas sobre algumas atividades cotidianas e corriqueiras, como sair com amigos e ir a um bar.

“Estou tentando manter a minha sanidade mental. Também quero dizer que eu não vou desistir do caso, não vou deixar passar […] até porque eu sou referência para outras pessoas. Mostrar o resultado do caso, seja ele negativo ou positivo, é importante para que as pessoas também não desistam nem de continuar na missão delas e nem deixar que esses fascistas continuem fazendo o que querem com a gente”, disse Carol Inácio à Fórum.

Fórum - Como você está hoje, depois de ter sofrido os ataques do grupo neonazista?

Carol Inácio-
Hoje, depois de dois dias do ocorrido e da efetivação do Boletim de Ocorrência, eu estou mais tranquila em relação a apoio. Como eu moro em uma cidade pequena e seu eu não me engano, 80% dessa cidade é bolsonarista (O presidente Bolsonaro teve 74% dos votos no 2º turno em Colatina) e isso influencia de certa forma, porque muitos usam isso que aconteceu comigo como vitimismo, e eu achei que estaria sozinha, mas eu estou tendo um apoio familiar muito grande, apoio das pessoas que trabalham comigo, tenho tido apoios do pessoal do PSOL, pois eu sou filiada ao partido e essas pessoas tem me dado apoio jurídico e emocional e isso tem me fortalecido.

Fórum - Você teme por sua integridade física?

Carol Inácio -
Eu temo sim pela minha integridade física, eu tenho um pouco de receio, eu fico receosa até de pensar sobre. Eles usaram a imagem da minha mãe sendo vacinada e gritando "Fora, Bolsonaro", foi um reels que eu fiz no Instagram e ele repercutiu muito, aí eles tiraram um print disso, mandaram em um grupo e começaram as ameaças para a gente, xingando e falando que a gente é 'negra porca', entre outros xingamentos.

Por exemplo, eu não poderia viajar sozinha porque eu não sei o que pode acontecer, sair, essas coisas de ir em bares, que antes eu ia muito e agora eu não sei se tenho mais coragem de ir. Eu fico um pouco abalada, mas nada que me faça desistir do meu trabalho, do meu posicionamento e da minha carreira enquanto influencer.

Fórum - Temos acompanhado a perseguição de ativistas e parlamentares feministas, negr@s e do movimento LGBT, sempre de maneira muito violenta e com muitas semelhanças. Acredita que são ações coordenadas?

Carol Inácio - Sim, até porque eu já vi relatos na internet de que invadiram um grupo de feminismo negro no Facebook, não as mesmas pessoas que me atacaram, então, eles são muito bem organizados, eles sabem muito bem como agir, eles pesquisam muito sobre a sua vida antes de atacar e tudo isso tem um motivo só: são pessoas fascistas, apoiadores do atual presidente. A relação é muito grande entre eles (bolsonaristas), os discursos são iguais, os discursos homofóbicos, de ódio, ataques a nordestinos também, são todos iguais. O presidente deixou migalhas para que as pessoas tomassem esse pódio dele do ódio e causassem esses transtornos na vida de militantes.


Fórum - Para você, quais são os caminhos para superar essa onda fascista no Brasil e o racismo estrutural?

Carol Inácio - Eu sou estudante de pedagogia e sempre defendi a educação no máximo e eu acredito que o caminho mais fácil de superar isso tudo é a educação e em seguida o respeito pra gente poder combater essa onda fascista, porque sem educação é isso aí o que acontece. A educação está defasada e essa ignorância toda vem à tona e pessoas de grande influência acabam trazendo essa onda fascista também. E, por acreditar na educação, acredito que a gente não tenha que superar essa onda, a gente tem que se unir para destruir tudo isso.

O racismo tem várias facetas, são vários tipos e quando a gente aprende isso, a gente aprende a se organizar também, pois, muitas vezes a gene acaba sendo racista e não sabe, às vezes a gente acaba sendo preconceituoso e não sabe.
Se tivéssemos uma educação muito boa no nosso país, acredito que coisas como essas estariam sendo infinitamente menores do que estão sendo agora. Eu sou a única influencer negra na minha cidade, o resto são todas brancas e padrão, o racismo estrutural também está aí.

Fórum - Ao término da conversa, Carol reforçou que vai continuar com a sua atuação política e com sua carreira de influencer.

Carol Inácio- Estou tentando manter a minha sanidade mental. Também quero dizer que eu não vou desistir do caso, não vou deixar passar. Eu sei que é um caso extenso, o advogado me explicou, são vários passos.

Mas vale a pena, até porque eu sou referência para outras pessoas. Mostrar o resultado do caso, seja ele negativo ou positivo, é importante para que as pessoas também não desistam nem de continuar na missão delas e nem deixar que esses fascistas continuem fazendo o que querem com a gente.

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