Confecções relatam que falta malha para trabalhar e alertam para alta de preços

Matéria-prima não está disponível e valores subiram, com prazos mais alongados de entrega; problema está generalizado e atinge também fabricantes maiores

Rolos de tecido em fábrica (foto Pixabay)
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A confecção Sound and Vision, de Porto Alegre, está com problemas para conseguir matéria-prima. A malharia Brusinhas, de São José dos Pinhais (PR), também. No polo de confecção de Santa Cruz do Capibaribe, em Pernambuco, a situação é a mesma.

De norte a sul do país, as pequenas confecções estão reclamando da falta de malha para produzir suas roupas, mas o problema está chegando também às indústrias maiores. Os fornecedores não aceitam pedidos por não ter o produto disponível, mas dão a indicação de que, quando voltarem, os preços estarão maiores. Os fabricantes alertam: esse é o insumo também usado para produzir máscaras faciais, essenciais para evitar a transmissão do novo coronavírus.

“Eu peço malha de três empresas de tecelagem, e as três estão com as vendas suspensas sem previsão de voltar, por falta de matéria-prima”, disse à Fórum Patrick Vieira, da Sound and Vision. “Eu nem sei os preços atuais, pois as vendas estão suspensas, mas todos os representantes disseram que devem aumentar.”

Com essa situação, o empresário já se preocupa com as duas datas mais importantes para suas vendas. “Não consigo comprar e provavelmente não vou ter estoque para as duas datas mais importantes, Black Friday e Natal”, afirmou.

O pessoal da Brusinhas relata situação parecida: diz que as fábricas não estão aceitando pedidos, ou, quando os recebem, a entrega prevista é apenas para novembro ou dezembro, sem data ou prazo certo. Enquanto isso, relatam, o quilo do tecido subiu 25%.

Então, pode se preparar: o preço das roupas vai aumentar.

E não é por falta de algodão in natura. O analista Victor Ikeda, do Rabobank, banco especializado em agronegócios, disse que a safra brasileira neste ano, pelo contrário, foi recorde, com 2,9 milhões de toneladas de pluma.  

Ikeda conta que, já há cerca de dois anos, o Brasil é o segundo maior exportador de algodão do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

De acordo com o analista, o volume destinado à exportação é maior do que o que fica para consumo interno. No entanto, ele não atribui o preço alto e a falta de matéria-prima no mercado interno a uma venda externa maior. Neste ano, os principais exportadores mundiais terão acúmulo de estoque, pois o consumo global tende a ser menor”, afirmou.

Para Ikeda, o fato de o algodão ser cotado em dólares por ser exportado “fez os preços em reais serem impulsionados pela desvalorização do real”.

Associação

Chamada a comentar o problema, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) enviou nota à Fórum dizendo que a retomada depois de um período de paralisação de 90 a 100 dias faz demandar tempo para que todos os elos da rede de produção e suprimentos voltem a funcionar de maneira sincronizada.  

 “Em paralelo, é preciso registrar que as empresas estão voltando às suas atividades simultaneamente, o que provoca uma demanda inicial acima da capacidade imediata de resposta da produção”, escreveu.

O texto ainda alerta que a retomada não está ocorrendo de forma homogênea “entre os diversos segmentos que compõem a indústria têxtil e de confecção”.  

A associação estima que, ao longo dos próximos três meses, a indústria têxtil estará com oferta e demanda ajustadas.