"É a morte ecológica do Rio Doce", diz Sebastião Salgado

Fotógrafo tem trabalhado para viabilizar um fundo de revitalização do Rio Doce: "Nós vamos recuperar o rio. Não tenho dúvida disso", afirmou em entrevista. Para Salgado, custos têm que ser arcados pelas empresas responsáveis pelo desastre em Mariana (MG).

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Fotógrafo tem trabalhado para viabilizar um fundo de revitalização do Rio Doce: "Nós vamos recuperar o rio. Não tenho dúvida disso", afirmou em entrevista. Para Salgado, custos têm que ser arcados pelas empresas responsáveis pelo desastre em Mariana (MG) Por Redação Nos últimos dias, o fotógrafo Sebastião Salgado tem trabalhado para viabilizar um fundo de revitalização do Rio Doce, intensamente atingido pela enxurrada de lama liberada pelo rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco – controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton – em Mariana (MG). "Nós vamos recuperar o rio. Não tenho dúvida disso", afirmou, em entrevista ao portal G1.

"O Rio Doce é minha vida. Nasci e cresci nas suas margens, e acompanhei a degradação desse ecossistema. Eu estou dedicando uma parte da minha vida, a minha esposa está dedicando uma parte da vida dela, o conselho diretor do Instituto Terra [do qual é proprietário] está dedicando uma parte da vida deles para salvar o rio", declarou Salgado.

"O que está acontecendo agora, com o rio, é o que acontece com um corpo que levou uma punhalada. A mancha que vem descendo e cobrindo o fundo do rio está esterilizando toda sua vida biológica. Os ovos dos peixes estão sendo soterrados. Não vão nascer mais tartarugas, rãs, sapos e todas as plantas aquáticas vão deixar de existir. Por onde passa, essa lama esteriliza tudo. É o maior acidente ecológico que já aconteceu nesse rio. Talvez o maior do Brasil", adicionou. "É a morte ecológica do Rio Doce. O rio terminou. O fundo desse rio vai ficar encoberto por muito tempo. Foi eliminada toda a vida do rio", constatou, em outro depoimento, dessa vez ao jornal O Tempo.

Na manhã da última sexta-feira (13), Salgado se reuniu em Brasília com a presidenta Dilma Rousseff para discutir as medidas a serem tomadas em relação à catástrofe. "A nossa proposta é que as empresas donas da Samarco, a BHP e a Vale, constituam um megafundo com todos os recursos necessários para recuperar todas as nascentes do Vale Rio Doce. Esse fundo vai fazer com que o rio passe de um desastre terrível a um Vale que, a médio e longo prazo, seja um modelo para o Brasil. E que seja um projeto piloto", explicou ao G1. Segundo o fotógrafo, "a presidenta Dilma assumiu a liderança das negociações com as empresas. Ela se comprometeu a obter essa reparação".

Em suas falas à imprensa, Salgado tem destacado que a responsabilidade pela tragédia em Mariana é da Vale e da BHP Billiton, e que ambas, sobretudo a primeira, devem arcar com os prejuízos. "São as duas maiores mineradoras do mundo, e o volume dessas empresas comporta perfeitamente [com o fundo de revitalização do rio]. Acho que é a oportunidade, principalmente a Vale, que é da região, de habilitar o vale que deu nome a ela. Até pouco tempo ela se chamava Vale do Rio Doce. A Vale é o maior empregador da região. É responsável e vai ter que levar essa responsabilidade até o fim e assumir isso. Custos têm que ser arcados pelas empresas."

(Foto: Ricardo Giusti/PMPA)