As caricaturas de Maomé ganharam as manchetes à época da publicação. Enquanto alguns as encararam como uma provocação desnecessária aos muçulmanos, Charbobonnier defendeu a escolha da revista ao dizer, em uma entrevista concedida em 2012, que havia atuado dentro dos limites da lei que garante a liberdade de expressão.
Carlos Latuff, um dos cartunistas brasileiros mais conhecidos internacionalmente, famoso por seu trabalho em defesa da autodeterminação da Palestina, lembrou o episódio envolvendo o profeta. Para ele, o massacre é realmente uma fatalidade, mas é também a crônica de uma tragédia anunciada. “Porque esse jornal publicou em 2006 uma série de charges de Maomé que causou uma grande controvérsia”, explicou.
Latuff lembra que a redação da Charlie Hebdo já vinha sofrendo ameaças, "mas mesmo assim continuou com a linha de charges de sátiras ao Islã e infelizmente ocorreu essa tragédia”, lamentou. O cartunista acredita que o ataque fortalecerá a extrema-direita francesa, “que tem o discurso anti-Islã e anti-imigração”.
A francesa Marie-Helene Rouche, mestre em Idiomas Estrangeiros pela Universidade de Sorbonne e moradora de Paris, concorda com o brasileiro. “Por ora, o maior sentimento é tristeza, mas sinto que a raiva virá logo. Temo pela violência, mas infelizmente acho que é inevitável”, observa. "Já tivemos problemas de cunho racista desse tipo e isso tornará mais fácil para alguns justificarem sua agressividade contra outras pessoas”.
Rouche relata que entre os franceses, nas redes sociais, a reação conservadora já se esboça, embora o luto ainda impere. Ela conta que, em seu feed do Facebook, já leu mensagens como "matem todos os idiotas usando djealba [vestuário muçulmano utilizado principalmente por mulheres]" e "o Islã deveria ser banido da França, assim como o nazismo está banido desde 1945” – afirmação que traz embutida um contradição.
Abaixo, confira algumas capas polêmicas da Charlie Hebdo (clique para ampliar): [caption id="attachment_56819" align="aligncenter" width="236"] "Raspei o bigode", diz, na capa, a política de extrema-direita Marine Le Pen (Foto: Divulgação)[/caption] [caption id="attachment_56821" align="aligncenter" width="227"] Na capa mais polêmica, o profeta Maomé afirma: "É difícil ser amado por idiotas" (Foto: Divulgação)[/caption] [caption id="attachment_56822" align="aligncenter" width="237"] Depois do primeiro ataque sofrido por sua redação, a revista publicou, em 9 de novembro de 2011, a imagem de um muçulmano e um cartunista se beijando, acompanhada pela frase “O amor é mais forte que o ódio” (Foto: Divulgação)[/caption] [caption id="attachment_56823" align="aligncenter" width="236"] Em uma das capas de julho de 2013, lia-se: “O Corão é uma merda, não detém as balas”. Na imagem, é possível ver um muçulmano tentando de defender de disparos (Foto: Divulgação)[/caption] [caption id="attachment_56824" align="aligncenter" width="228"] Ao destacar a morte de Michael Jackson, a revista estampou na capa: "Michael Jackson enfim branco" (Foto: Divulgação)[/caption] [caption id="attachment_56831" align="aligncenter" width="235"] Na época em que o papa Bento XVI renunciou ao cargo, a revista o retratou abraçando apaixonadamente um oficial da Guarda Suíça e dizendo "enfim livre!" (Foto: Divulgação)[/caption]