EUA: policiais brancos matando negros, porque Ferguson não é exceção à regra

Casos recorrentes e estudos mostram que policiais norte-americanos brancos estão muito mais propensos a atirarem contra pessoas negras desarmadas do que em pessoas brancas armadas

Tamir Rice (sup. esq.); Eric Garner (inf. esq.); Dontre Hamilton (sup. dir.); Michael Brown (inf. dir.): todos desarmados, todos mortos por policias brancos
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Casos recorrentes e estudos mostram que policiais norte-americanos brancos estão muito mais propensos a atirarem contra pessoas negras desarmadas do que em pessoas brancas armadas Por Vinicius Gomes [caption id="attachment_55430" align="alignleft" width="285"]Tamir Rice (sup. esq.); Eric Garner (inf. esq.); Dontre Hamilton (sup. dir.); Michael Brown (inf. dir.): todos desarmados, todos mortos por policias brancos Tamir Rice (sup. esq.); Eric Garner (inf. esq.); Dontre Hamilton (sup. dir.); Michael Brown (inf. dir.): todos desarmados, todos mortos por policias brancos[/caption] Um velho preceito sociológico diz que o monopólio do uso legítimo da violência é o que define os governos modernos e tal monopólio é extremamente protegido pelo Estado contra eventuais questionamentos da população. Nos EUA, nos dois últimos anos, testemunhou-se a legitimação da violência letal da polícia – na maioria das vezes com impunidade – como a população negra do país pode atestar. Um estudo de 2005 conduzido pela Florida State University já mostrava que policiais brancos estavam mais propensos a atirar em uma pessoa negra desarmada do que em uma pessoa branca armada. Foi criada até mesmo uma lista de 10 homens brancos que de fato confrontaram a polícia com arma e, mesmo assim, não foram mortos. A decisão de ontem do Tribunal do Júri do estado de St. Louis de não indiciar o policial Darren Wilson, responsável pela morte, em agosto passado, do jovem negro Michael Brown – que testemunhas afirmaram estar desarmado –, é apenas mais um capítulo na história dos conflitos raciais dos EUA e atestam que o que aconteceu em Ferguson está muito longe de ser aquilo que o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani afirmou na ultraconservadora Fox News: “essas coisas acontecem e são exceções”. Ele ainda disse que policiais brancos não estariam em bairros negros, se os negros não estivessem se matando 70% do tempo... Veja três exemplos de como policiais brancos usaram de força letal contra negros (inclusive uma criança) desarmados: 1)    Policial atira 14 vezes temendo por sua segurança: Dontre Hamilton estava dormindo em um memorial de concreto de frente a uma cafeteria Starbucks, em Milwaukee. Dois funcionários ligaram para a polícia duas vezes reclamando de sua presença ali. Mas os policiais que atenderam aos chamados afirmaram que Dontre não estava fazendo nada ilegal. Uma hora e 14 tiros depois, Dontre estava morto: um terceiro policial, que fazia ronda na região, iniciou uma discussão com ele e teve seu cassetete tomado. Contudo, segundo a própria funcionária que havia ligado para a polícia anteriormente, não atacou o policial, pois parecia estar tentando se defender. A mais de dois metros de distância, o agente então sacou sua arma e sem dizer mais nada atirou 14 vezes em Dontre. O policial foi dispensado sem ser indiciado. 2)    Pai de seis filhos é morto com imobilização proibida: Com tudo gravado em vídeo, Eric Garner, de 43 anos, pai de seis filhos e com dois netos, foi cercado por cinco policiais de Nova York, que o enforcaram e ajoelharam em cima de sua cabeça, enquanto o tempo todo ele tentava dizer “Eu não consigo respirar”. Momentos depois, Garner não se mexia nem respondia mais aos paramédicos. Ele era asmático e morreu enquanto era levado ao hospital. Os policiais, que estão aguardando julgamento, afirmaram que Garner vendia cigarros clandestinos e por isso foram prendê-lo, mas diversas testemunhas, inclusive a pessoa que gravou o vídeo, disseram que ele não havia feito nada e que tinha acabado de separar uma briga. 3)    Criança de 12 anos é morta. Ela tinha uma arma de brinquedo na mão: Se ainda existe alguma dúvida de que a pele negra é sinal de “sujeito perigoso” em determinados locais dos EUA, o assassinato de Tamir Rice contraria a tese. Após responderem a uma chamada telefônica sobre “um cara” em um parque sentado em um balanço apontando uma arma para outras crianças, dois policiais chegaram ao local e quando a criança não obedeceu a ordem deles de mostrar suas mãos – supostamente levando sua mão para pegar a arma –, eles atiraram. Na gravação telefônica, o denunciante disse que a arma provavelmente era falsa. Para defender os policiais que atiraram em Tamir Rice, o vice-chefe de polícia disse que talvez eles não tenham recebido essa informação da central.