Facilitação do processo do FSM

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Fórum Social Mundial em processo

Por Moacir Gadotti   A autogestão é a forma pela qual o FSM facilita o seu processo. Autogestão não significa falta de estruturas e responsabilidades. Como um empreendimento autogestionário, o FSM possibilita a mais democrática forma de tomada de decisões, que é a tomada de decisões por consenso. Seu órgão facilitador mais amplo é o Conselho Internacional (CI). A autogestão é baseada na democracia participativa e exige um grande esforço de trabalho coletivo permanente, pois implica um grande envolvimento de todos com a missão do Fórum. Em Nairóbi, em janeiro de 2007, o Conselho Internacional abriu a discussão do tema da facilitação a partir de uma manifestação do “Grupo Facilitador” brasileiro. Chamado “Grupo dos Oito”, o Comitê Organizador do primeiro FSM (2001), um conjunto de oito entidades (hoje nove, incluindo o Instituto Paulo Freire), continuou o trabalho inicial com o Secretariado Internacional do FSM. Depois do Fórum de Mumbai (2004), na Índia, o Comitê Organizador indiano juntou-se ao Secretariado Internacional. Em Nairóbi, o Grupo Facilitador brasileiro do Secretariado Internacional não quis mais continuar com essa tarefa sozinho, buscando ampliar a participação internacional. Ele entendia que já havia cumprido o seu papel e que precisava preparar uma transição. O Brasil havia iniciado o processo do Fórum, mas não podia continuar fazendo tudo. Concentrar a facilitação no grupo inicial seria prejudicar a própria expansão do FSM. O CI, contudo, não chegou a uma conclusão e pediu para que o Grupo Brasileiro continuasse com a sua tarefa de facilitação. A discussão está aberta. É preciso que o Fórum tenha um Plano de Ação estratégico ou um Plano Anual de Objetivos. E isso está sendo difícil de construir coletivamente. Precisa-se delegar essa tarefa a um grupo de trabalho que prepare um documento inicial de discussão. Em 2006, uma reunião do CI em Parma (Itália) solicitou esse estudo a um grupo ad hoc. O grupo apresentou sua proposta em Nairóbi, com claros avanços, mas ainda não conclusivos. Os eventos são momentos do processo. Muitas coisas acontecem antes e depois dos eventos. Tem que haver um grupo facilitador do CI já que ele é o próprio facilitador do processo do FSM. O processo não é do Fórum, mas dos seus participantes, movimentos e ONGs que o utilizam como espaço aberto de organização de suas agendas locais e planetárias. É a sociedade civil planetária que está construindo outros mundos possíveis e não o Fórum em si mesmo. Mas é preciso que o FSM saiba construir instrumentos, promova estudos e pesquisas e disponibilize, pelo menos em seu campus virtual, todos os instrumentos de que a sociedade civil precisa para viabilizar sua missão. O CI está trabalhando para construir um novo formato, preocupado com o processo. Há muitos Fóruns, mas eles não estão devidamente conectados e também não são tão visíveis quanto o evento principal do FSM. Há no Fórum uma clara dessintonia entre a estratégia política e a sua estrutura. Ela funciona precariamente, mesmo nos seus principais eventos. Hoje a sua própria memória não está sendo devidamente preservada por falta dessa estrutura. O Fórum é uma resposta à necessidade de superar a dispersão das lutas, uma resposta à necessidade de articular, mundialmente, a diversidade de iniciativas e de forças sociais. Essa é sua missão e a partir dela foi fortalecendo uma nova forma de se fazer política, uma nova cultura que está formando toda uma geração de novos militantes, principalmente os jovens. A partir do FSM a democracia participativa fortaleceu-se em todo o mundo. A própria noção de democracia ganhou força e significado. O Fórum acabou defendendo a radicalização da democracia e as organizações que dele participam vêm cobrando de governos e partidos mais democracia. Por tudo isso, é importante que o CI chegue rapidamente a definir um novo formato e uma estrutura que facilite o processo, mesmo que sejam sempre provisórios. Ecos de Salvador Entre os dias 2 e 5 de agosto foi realizado, em Salvador, o II Fórum Social Nordestino, com a participação de cerca de 10 mil pessoas, mobilizando ONGs e movimentos sociais que lutam pela promoção e avanço dos direitos econômicos, sociais e ambientais. O tema “Por um outro modelo de desenvolvimento para o Nordeste” teve seu foco voltado, em especial, para a polêmica obra de transposição do rio São Francisco. “Um outro Nordeste é possível”, foi o lema que aglutinou 130 oficinas e seminários, quatro conferências, mostras de produtos da Feira Solidária, a Tenda Meio Ambiente e Diversidade Cultural, apresentações culturais, entre outras iniciativas pelo acesso universal aos bens comuns da natureza e da humanidade, por outra economia e desenvolvimento democrático e solidário, e pela igualdade, respeito à diversidade, eliminação de todas as formas de discriminação. No próximo número, discutiremos a necessidade de convergências e alianças no processo do FSM. Notas Fórum Mundial de Educação Temático – 13 a 16 de setembro de 2007 – Alto Tietê (SP). www.forummundialeducacao.org. Fórum Social da Juventude do Mercosul – de 1 a 4 de novembro de 2007 – Florianópolis (SC). www.forumsocialdajuventude.com.br. Fórum Social das Américas – 7 a 12 de outubro de 2008 – Guatemala. www.forosocialamericas.org. Leia mais: www.forumsocialmundial.org.br.