FETRAF-SC alerta: cadeia do leite pode quebrar no estado

Federação alerta que estiagem e cigarrinha-do-milho podem excluir Agricultores Familiares da produção de leite, caso o Governo continue sem ação

Montagem/Julio Cavalheiro-Secom-SC e Círio Parizotto- Epagri-SC
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Ano passado a estiagem em Santa Catarina prejudicou fortemente os agricultores familiares. Este ano toda a cadeia de produção leiteira de Santa Catarina está em risco devido à seca e à praga popularmente conhecida como cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). O inseto é considerado uma das mais severas pragas na América Latina. 

De acordo com a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar de Santa Catarina- FETRAF-SC os produtores do estado sofrem por duas quebras consecutivas na safra de milho em função do clima, além da cigarrinha do milho que já causou prejuizo de 60% da produção do milho.

Jandir Selzler, coordenador geral da FETRAF-SC, afirma que “em São Lourenço do Oeste, entidades da Agricultura Familiar fizeram um levantamento e identificaram que 100% das propriedades dos seus associados apresentaram sérias perdas na produção do milho”.

O consumo de milho anual em Santa Catarina passa de 7 milhões de toneladas. Sem estiagem e pragas o estado produz menos da metade do necessário.

Segundo a FETRAF-SC, faltarão insumos para os animais no inverno e os agricultores serão obrigados a comprar quantidade ainda maior para alimentar o gado leiteiro, aves e suínos: “Já estávamos dependentes dessa matéria-prima e agora a situação vai ficar ainda mais crítica, porque já tivemos uma quebra de 1 milhão de tonelada na produção. Como vai ficar a produção de aves e suínos sem esse insumo?”, questiona a Federação.

Além do aumento dos custos de produção os agricultores familiares concorrem com o leite argentino e uruguaio: “Com o aumento no custo de produção e sem condições de competir com o preço do leite que vem de fora, a nossa bacia leiteira vai quebrar, porque os nossos agricultores não vão conseguir honrar os financiamentos feitos para investir na produção e ainda garantir a sua subsistência”, prevê Jandir Selzler. 

A praga tomou conta da lavoura do milho

Os relatos de agricultores familiares mostram o nível dos prejuízos e a urgência de ação governamental.

Monica Fantinel Kuhn, agricultora familiar que produz leite em Dionísio Cerqueira, resume o caos:  “Ano passado, não tivemos pastagem, pois aconteceu a seca. Gastamos praticamente toda a silagem que tratamos e, quando chegamos em outubro e não pudemos plantar milho porque o  solo estava muito seco e duro. Compramos mais silagem de fora e isso aumentou o custo da produção. Este ano o milho ficou todo em palha e não rendeu a silagem, e agora ainda tem a cigarrinha”. 

No vídeo que circula nas redes, o agricultor familiar de Galvão, José Giacomin, mostra o estrago da cigarrinha, a praga que não deixa formar a espiga: 

https://twitter.com/maria_fro/status/1379147466608631815

Governo demora para agir

Em dezembro de 2020 o governo do estado anunciou a liberação de R$ 50 mil para 90 municípios catarinenses que decretaram emergência ou calamidade em função da seca. Até o momento, nenhum município recebeu o recurso.

A FETRAF-SC reclama do atraso da Secretaria de Estado da Agricultura em liberar R$ 5 milhões captados do Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR) para auxiliar agricultores que sofreram com a estiagem ainda em 2020.

Para a FETRAF-SC, a crise também é resultado de uma cadeia de produção leiteira defasada e insustentável. “É preciso rever esse modelo que além de excluir muitas famílias, há muito tempo vem se mostrando inviável, porque estamos sempre vulneráveis e dependentes de matéria-prima", avalia Selzler, referindo-se à produção de leite a base de pasto.

Em curto prazo, a Federação aponta uma série de medidas para amenizar o impacto da crise, a começar por um diálogo com o Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para que não apenas regule o preço do milho, mas que também disponibilize seu estoque com a precificação mínima aos agricultores familiares atingidos por essas crises sucessivas.

Preocupado com a entrada de leite estrangeiro no país, o coordenador pontua que o Mercosul não impede que haja acordos, “precisamos de diplomacia e vontade política para valorizar o leite nacional”.

Ainda no âmbito Federal, a entidade participa de negociações para anistiar ou ao menos prorrogar as dívidas dos trabalhadores do campo.

Com o governo do estado, a FETRAF-SC busca negociar a prorrogação dos vencimentos do Programa Troca-troca deste ano, além de pedir a sua ampliação, para que os agricultores familiares possam ter acesso a variedades e maior volume de sementes e e insumos, “também pedimos que o Estado entre com um subsídio e financie também sementes de pastagem de inverno. É preciso agir logo, ou a nossa Agricultura Familiar não vai aguentar o rojão”, avisa o coordenador geral da entidade.

O governo de Santa Catarina afirma que está ajudando a Agricultura Familiar, intermediando as negociações com o governo Federal para prorrogar o prazo dos financiamentos dos agricultores, mas a FETRAF defende que as ações do Estado devam ser mais rápidas e efetivas.