Fontana defende radicalização da democracia

Modelo de socialismo petista envolve mais participação, na concepção do deputado gaúcho

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Modelo de socialismo petista envolve mais participação, na concepção do deputado gaúcho Por Anselmo Massad Defensor da tese Mensagem ao PT, o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) Fórum – Na sua visão, o que é o socialismo petista? Fontana – Em primeiro lugar, o PT tem que se preocupar com as linhas gerais da idéia de socialismo, pensar no modo de vida e na cultura que quer legar à sociedade como partido socialista. Levar desenvolvimento sustentável é uma bandeira fundamental para um partido socialista e de esquerda. Outro aspecto é a luta contra o modelo que coloca a competitividade e acirra o individualismo, buscando construir uma cultura hegemônica da solidariedade e da justiça social, para levar a uma situação em que se chegue à felicidade para todos e não que a felicidade de uns signifique a infelicidade dos outros. A distribuição de renda no planeta, entre e dentro dos países é uma forma de barrar um dos combustíveis para os conflitos permanentes da humanidade. Como partido socialista, tem que defender ainda a radicalização da democracia, do acesso pleno à informação, à universalização da educação de qualidade que é um dos maiores desafios da humanidade – fazer com que mais pessoas compreendam melhor o mundo. Fórum – o senhor mencionou a radicalização da democracia. Duas outras referências latino-americanas que se afirmam socialistas, Fidel Castro e Hugo Chávez, são frequentemente considerados ditadores ou aspirantes a regimes autoritários. Em que medida eles são ou não modelos? Fontana – Não são referências no sentido de que temos que estruturar nossa proposta de socialismo dentro de nossa cultura e história e de nosso modo de implementar progressivamente o socialismo. Isso não quer dizer que não haja questões a aprender. O governo Chávez e o de Cuba têm conquistado importantes melhorias para o conjunto da população, e por isso são apoiados pelos povos e têm legitimidade dentro de suas culturas e histórias particulares. Não cabe a nós dizer em que estão errados ou certos, como não cabe a eles apontarem em nossa experiência. Mas o modelo de socialismo para o PT tem que ser pensado no cenário brasileiro. Fórum - Um debate que parece ter sido mais trazido pela mídia e pela decisão do STF de aceitar as denúncias contra membros do partido do que pelas falas no Congresso é o caixa 2. O senhor acredita que o PT pretende criar mecanismos internos que coibam essa prática? Fontana – O PT tem que tirar da crise que vivenciou um profundo aprendizado, até para ter vigor para defender sua história e seu possível futuro. A ilegalidade e os erros cometidos por alguns não podem condenar o coletivo e o papel de um partido de esquerda. Um ponto de consenso é a defesa de mudanças no sistema político, porque esse modelo está falido. Mas há uma dificuldade no Congresso Nacional. Defendo uma Constituinte exclusiva, porque o conservadorismo do Congresso é muito grande para fazer as mudanças necessárias para devolver ao povo a possibilidade de fazer política. O sistema de financiamento permite o abuso de poder econômico ilimitado. Aliado ao financiamento privado de campanha, forma-se uma correia de transmissão quase automática para os desvios éticos. Parte da população, infelizmente, continua sensível ao argumento que considero inconsistente de que o povo não deve financiar as eleições, sem se dar conta das consequências do financiamento privado.