Frio em SP: padre Julio pede hotéis para quem está dormindo nas ruas

Previsão é que temperatura volte a cair, para mínima de 7°C já na próxima madrugada; ao menos duas pessoas já morreram devido ao frio na capital paulista desde semana passada

Padre Julio Lancellotti distribui refeições a pessoas em situação de rua (Foto reprodução/Facebook)
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O padre Julio Lancellotti pediu publicamente que a Prefeitura de São Paulo leve as pessoas de rua de São Paulo para dormir em hotéis. O pedido foi feito durante homilia neste domingo (23) e repetido nesta segunda-feira (24) à Revista Fórum.

O apelo é feito na esteira da onda de frio que já matou ao menos duas pessoas que moram nas ruas de SP desde a semana passada. E as próximas madrugadas podem ser ainda mais geladas, batendo recordes de temperaturas baixas. Segundo a Climatempo, a previsão é que na terça (25) e na quarta (26), a mínima prevista fique em apenas 7°C.

Em maio, o prefeito Bruno Covas (PSDB) sancionou lei prevendo leitos de hotéis para moradores de rua. Atualmente, segundo Lancellotti, há 150 pessoas hospedadas em quartos contratados por editais emergenciais. E, segundo o religioso, elas já eram atendidas antes em centros de acolhimento, alguns dos quais tiveram as vagas reduzidas para tentar melhorar as condições de higiene e limpeza.

“Fui um dos signatários de representação ao Ministério Público pedindo a destinação de leitos de hotéis a pessoas que estavam na rua. O MP acolheu e recomendou à prefeitura a utilização de 8 mil leitos. A prefeitura respondeu até agora com 150”, afirmou.

Vigário episcopal para o povo de rua na capital paulista, padre Julio também destaca que mulheres com crianças não estão sendo destinadas a esses quartos, onde teriam banheiro só para a família e isolamento social. “Mulheres com crianças estão indo para um CEU, onde todos ficam juntos”, afirmou.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS),confirmou que atualmente dispõe de 150 vagas em três hotéis – Grand Barão, Rivoli e Windsor –, todos localizados na região central da cidade para a hospedagem de idosos em situação de rua já acolhidos pela rede socioassistencial, exatamente como disse o religioso.

A ideia, segundo a pasta, é ampliar a proteção social a pessoas idosas, garantindo “condições de distanciamento social a pessoas acima de 60 anos, que compõem o grupo de risco de exposição ao Covid-19”.

A secretaria informou ainda que, durante a situação de emergência, criou 1.222 novas vagas de acolhimento, sendo 672 em oito equipamentos emergenciais em centros esportivos, outras 400 em quatro Centros Educacionais Unificados (CEUs), utilizados durante a Operação Baixas Temperaturas, além daquelas 150 vagas nos hotéis.

A prefeitura não respondeu porque não leva para os hotéis as famílias com crianças ou se há mais leitos a serem contratados nesses estabelecimentos.

“As pessoas não querem vagas. Vagas são para carros, em estacionamentos”, criticou o padre Julio, sobre as aludidas “vagas em abrigos”.  “As pessoas querem lugar.”

Lancellotti pediu que a prefeitura pare de tirar as coisas das pessoas em situação de rua, como na última quinta-feira (20), em que oito barracas foram desmontadas na praça Princesa Isabel (centro de SP).

'Camping social'

O religioso se opõe a um projeto que está em análise pela administração de criação de uma área de “camping social”. A ideia é destinar uma área da cidade – em Santo Amaro, na zona sul – para que as pessoas que não têm casa montem suas barracas.

“A cidade já e um camping, mas essa proposta quer tirar essas pessoas da vista . Ela é higienista e institucionaliza a miséria”, criticou Lancellotti.