Histórico de “atleta” não barra piora em quadros de Covid grave, diz estudo

Autor diz que pesquisa é um recado para as pessoas não se fiarem tanto na atividade física como “fator absoluto” de proteção contra a doença

Pessoas praticam atividades físicas (Foto Marcos Santos/USP Imagens)
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Um estudo feito com 209 pacientes com Covid-19 grave mostrou que aqueles que tinham prática regular de exercícios não tiveram ganho no enfrentamento da doença por sua atividade física prévia. Esta não resultou em diferenças no tempo de internação, na necessidade de ventilação mecânica ou de tratamento intensivo.

A pesquisa foi conduzida com pessoas internadas no Hospital das Clínicas de São Paulo e no Hospital de Campanha do Ibirapuera, na zona sul de SP e já desativado, e contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Antes de prosseguir, vale uma ressalva: outros estudos sugeriram que a prática de exercícios pode, sim, estar associada à menor hospitalização por Covid. O que a nova pesquisa indica é que essa proteção conferida pela atividade física não surte o mesmo efeito quando a doença se agrava.

“Esse estudo serve como um sinal amarelo para a população que se exercita com regularidade e, por isso, acredita estar totalmente protegida”, disse Bruno Gualano, professor da Faculdade de Medicina da USP e um dos autores do estudo, à Agência Fapesp. “Não encontramos diferença de prognóstico e desfecho da doença entre os pacientes graves mais ou menos ativos. Isso mostra que os benefícios da atividade física existem, mas aparentemente vão só até um ponto da gravidade da doença”, declarou.

Fatores de risco

Os resultados da pesquisa apontam que, nos casos graves de Covid-19, o fato de o paciente ter fatores de risco como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e idade avançada foi mais determinante na progressão da doença do que a prática de exercícios com regularidade.

Os dados do estudo foram publicados na plataforma medRxiv , que compila pesquisas ainda sem revisão por pares.

Segundo o professor da Faculdade de Medicina, a pesquisa é “um recado importante para não se fiar tanto no histórico de atividade física como um fator absoluto de proteção contra a Covid-19”.

Gualano ressaltou que, em relação à doença provocada pelo novo coronavírus, é tudo muito novo. “Ainda são poucos os estudos que relacionam Covid-19, atividade física e sistema imune", disse ele. "No entanto, ao analisar o que temos publicado sobre o assunto, notamos que a atividade física poderia eventualmente ser considerada um bom preditor até certo estágio de gravidade da doença, prevenindo complicações. Mas isso não se revela verdadeiro nos casos mais críticos”, ressaltou.

Com informações da Agência Fapesp