Internet pública obriga usuários a ver propaganda do governo Bolsonaro

Além disso, aumento do uso do WhatsApp ampliou alcance das fake news e o discurso contrário às organizações de defesa das comunidades indígenas

Foto: Conecta Brasil
Escrito en NOTÍCIAS el

A cada vez que acessam a internet banda larga do Wi-fi Brasil, projeto do Conecta Brasil de inclusão digital do ministério das Comunicações, alunos, professores e moradores da zona rural de Santa Filomena, no interior do Piauí, são obrigados a assistir a uma propaganda de 30 segundos sobre programas sociais do governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido).

Se o usuário precisar entrar na internet cinco vezes no dia, ele vai ter de assistir a propaganda cinco vezes. Se demorar para usar, a rede desconecta e tem de assistir de novo. 

De acordo com o Ministério das Comunicações, ao menos 26 milhões de brasileiros passaram a ter acesso à banda larga pelo Conecta Brasil. O programa tem um custo previsto de R$ 2,7 bilhões. Deste montante, R$ 2,46 bilhões serão alocados no Norte e no Nordeste, onde é maior a carência de internet. 

O Nordeste é o principal reduto eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o Norte foi onde Bolsonaro venceu Fernando Haddad (PT-SP), em 2018, com pequena margem de votos.

O único aplicativo que funciona sem a publicidade governamental é o WhatsApp. O avanço da conexão à internet pelo aplicativo, no entanto, trouxe a ampliação do alcance das fake news e o discurso contrário às organizações de defesa das comunidades indígenas, que chega quase diariamente aos celulares dos moradores da região do Rio Negro, onde vivem 23 etnias indígenas.

Marivelton Baré, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), disse que é frequente o recebimento de mensagens com conteúdo enganoso sobre ONGs que atuam no local. 

“Temos orientado o pessoal com esse negócio de fake news, muito comum, principalmente no momento atual. Como aqui é uma região de fronteira, também tem o Exército falando em soberania nacional (para atacar entidades do terceiro setor)”, afirmou Baré.

Os roteadores são colocados em locais em torno dos quais as comunidades contempladas se reúnem, como escolas, postos médicos e unidades de segurança pública.

Com informações do Estadão