Investigação revela que empresários bolsonaristas tentaram criar rádio para defender governo

Mensagens de WhatsApp foram apreendidas pela Polícia Federal no inquérito que apura a organização de atos golpistas

Jair Bolsonaro com a filha Laura em ato golpista (Reprodução)
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Atualizado no dia 22/09, às 12h51

Empresários bolsonaristas articularam para criar uma estação de rádio para fazer propaganda e defesa do presidente Jair Bolsonaro e de seu governo. É o que indicam mensagens no celular do empresário Otávio Fakhoury, um dos alvos do inquérito do Supremo Tribunal Federal que investiga a organização de atos golpistas e contra a democracia.

Fakhoury falou sobre o plano em troca de mensagens com Fábio Wajgarten, responsável pela comunicação social do governo Bolsonaro. O celular do empresário foi apreendido pela Polícia Federal e o conteúdo das mensagens foi revelado por reportagem do jornal O Globo.

A estratégia discutida era comprar uma estação de rádio e introduzir uma programação que apoiaria pautas de interesse do governo. Na conversa apreendida, Fakhoury diz já ter um grupo para “financiar a aquisição”, citando como um dos participantes o chef e dono da rede de restaurantes Madero, Luiz Renato Durski Júnior. Segundo avaliação da própria PF no depoimento, a emissora seria usada “para promover e ampliar as pautas políticas de interesse de seu grupo político”.

Os investigadores fizeram os questionamentos sobre o assunto em dois depoimentos, o de Durski e o do pastor RR Soares.

“Indagado sobre o diálogo por meio do aplicativo de mensagem Whatsapp identificado no telefone celular de Otávio Oscar Fakhoury, entre Otávio Oscar Fakhoury e Fábio Wajngarten, em que Oscar Fakhoury comenta sobre a necessidade de comprar uma rádio FM 'target', em que Oscar Fakhoury afirma já ter um grupo para financiar a aquisição da rádio e, dentre as pessoas mencionadas, Oscar Fakhoury cita o nome do declarante (Junior Duski)”, diz a PF, no relatório do depoimento de Durski.

O empresário disse que não fazia parte do grupo disposto a financiar a compra da rádio. Ele afirmou ainda que nunca foi procurador por ninguém para falar da compra e que não apoia grupos políticos, mas apenas a pessoa do presidente Jair Bolsonaro.

Já RR Soares respondeu que foi procurado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pedindo ajuda para encontrar uma estação de rádio em São Paulo para alugar. No depoimento, o pastor afirmou ter conversado com alguns proprietários de rádios e que um deles lhe disse ter faturamento mensal de cerca de R$ 1 milhão, valor informado a Eduardo Bolsonaro.

“Eduardo Bolsonaro disse que só tinha interesse na locação de uma rádio e não tinha esse valor para negociar a locação”, diz o depoimento do pastor.

Nota de esclarecimento sobre mensagens de WhatsApp em que ‘empresários articulam criação de rádio pró-governo’:
 
O advogado de Otavio Fakhoury, João Vinicius Manssur, consigna que não teve acesso aos documentos citados pela imprensa e que seu cliente sempre agiu de forma ética, lícita e, principalmente, em estrito respeito à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito.